Gravada no íntimo de todos nós,
A lei que nos rege e orienta
É a verdade segura, pois assenta
Na força da Natureza a fazer ouvir sua voz.
Não foi o homem seu criador,
Mas aprendeu pelas escrituras
Que, sem má vontade, desprezo ou rancor,
Ela une, entre si, as criaturas.
Liberta, suaviza, opõe-se à crueldade
Dos seres propensos à rebeldia,
Equilibra o viver em comunidade,
Ela é o ânimo e sustento de fidelidade
Do Criado ao Criador, em cada dia.
Num caminho certo da Salvação,
Deus dotou o mundo de liberdade
Para alcançar, por sua própria mão,
Os frutos de amor, grandeza e felicidade.
Transgrediu o homem esta benesse
Dada sem reservas nem distinção.
O pecado avilta-o mas ele reconhece
Que, na luta do trabalho e dor, ganhará seu pão.
Vem o Senhor Jesus com autoridade divina
Dizer que nada, nem um til, à Lei irá mudar
Mas quer dar-lhe nova força que ilumina
Aqueles que a vida e coração tentam transformar.
Assim, o mandamento recebe renovado vigor
Porque assente e garantido pelo amor.
Por ele, abrem-se outros caminhos e horizontes,
Alegrias e certezas jorram das fontes
Da Graça Redentora que Deus nos dá
Com Sua Palavra, nosso Pão, nosso Maná.
Pelo amor não chamarei louco a meu irmão;
Contra ele tentarei não lançar minha má vontade;
Vou reconciliar-me com sincera caridade
E, juntos, no altar comeremos do mesmo pão,
Pois não é meu adversário nem inimigo,
Mas companheiro na difícil e longa jornada.
Eu com ele e ele comigo,
Chegaremos à Sabedoria da fraternal caminhada.
Já desejei inutilmente o bem alheio
Do meu semelhante a quem prometera ajuda e abraços,
Quando, afinal, me presumi cheio
De riqueza e segurança nos meus passos,
E lhe virei a cara em desprezo e desdém
Porque me pensava sábio e capaz, como ninguém.
Não juro falso mas, já com leviandade, jurei
Cumprir o conselho certo do meu Senhor;
Confesso, agora, e compreendo onde errei:
Quando a vaidade substituiu o amor.
Não quis reconhecer a inutilidade
Do meu eu egoísta sem rumo nem direcção,
Orgulhoso pelo falso poderio
Da minha existência em rodopio
Desprovida de sentido, motivo ou fidelidade
À chamada da consciente e profética missão,
Pois devendo afirmar o meu sim,
Gritei, bem alto, um ingrato não.
Foi a apatia sonolenta a tomar conta de mim
Porque meus gestos não fizeram comunhão.
Imprime, Senhor, no meu inseguro coração
Tua Lei divina, para a cumprir até ao fim.
Aos convites e atractivos ocos do mundo eu diga NÃO;
E à graça da Tua vontade, o meu sempre renovado SIM.
Manuel Armando
(Reflexão para o 6º Domingo do Tempo Comum – Ano A)
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