Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ADMIRAR PARA IMITAR





Era uma vez...OU… ADMIRAR PARA IMITAR


Gostamos de ler e estudar a História, fazendo dela uma análise crítica elucidativa sobre acontecimentos e feitos de comunidades ou pessoas. Lidamos com muitas coisas romanceadas e admiramos os personagens e os autores. Quase convivemos com homens e mulheres ilustres que marcaram a sua época e o seu mundo com ideias e factos. Estes adquiriram, por um direito próprio, a perpetuação nos anais das recordações de ruas ou estátuas nas praças públicas.


Ansiamos, com naturalidade, conhecer os seus feitos ou como se demarcaram dos demais indivíduos que, por seu turno, parece nada terem realizado de extraordinário ou normal na vida por que passaram.


A promiscuidade dos grandes artífices da humanidade com os inúteis constitui determinado termo de equilíbrio. Uns violentam o desenrolar dos tempos para caminhos sempre futuros e criadores de paz e desenvolvimento, enquanto os segundos travam o andar e emperram os grandes empreendimentos.


Seja como for, mas as diversas fases históricas prendem a nossa atenção e espevitam a vontade curiosa para também nós experimentarmos algo que nos personalize e subtraia ao marasmo entorpecedor da inutilidade. Há sempre pessoas que acarretam consigo carismas sociais, culturais, artísticos, políticos, económicos, desportivos ou de religião que as tornam singulares. E porque tudo nelas foi aproveitado em prol de um benefício comunitário, será impossível que essas personalidades passem, alguma vez, da memória dos tempos. Existiu sempre substrato sério que tornou bem firme o alicerce da construção segura. Passaram os tempos com ventos e tempestades mas as pessoas com as suas coisas e ideias permaneceram de pé, suscitando a contemplação e exemplo aos outros.


Não teremos nunca a hipótese de trazer à memória todas as figuras eminentes nos vários campos das actividades humanas nem, sequer, de as imaginar. Mas, ainda bem que muitos não deixaram o esquecimento ser a paga para quem tanto fez e ensinou.


Trazer à evocação individualidades importantes nas suas respectivas vertentes é permitirmo-nos a veleidade de concluir que dotados somos todos nós, os inseridos nesta humanidade imensa, mas que pouco ou nada realizamos baseados no paradigma da infinita plêiade de homens e mulheres que souberam, na humildade e no silêncio, fazer render os talentos de que foram exornados.


Desde a criação do ser racional, sempre foram inumeráveis as figuras proeminentes que ficaram indelevelmente fixadas nos memoriais da História. Não há épocas nem locais que se diferenciem nesta verdade. É saudável observar Jesus Cristo, centro irradiador de todas as capacidades de intimidade e exterioridade, protótipos para quantos se vão preocupando por um mundo mais feliz nos diferentes sentidos.


Quem não admira a actividade de todos os Apóstolos, ou a ciência, bondade, abnegação, altruísmo, o estudo e as descobertas variadíssimas nos campos gerais da capacidade mental e física de tantas e tantas outras individualidades?!


Aproveitando somente a título de exemplos, mais perto de nós no tempo, como não se deixar tocar e entusiasmar com uma Doutora Rita Levi-Montalcini, neurologista italiana, prémio Nobel da Medicina que, aos cem anos de idade, continua com a mesma filosofia de vida e afirma: “Gosto é do que faço em cada dia”?!


Jamais poderemos passar ao lado do controverso Leonardo Boff, eivado da profunda espiritualidade com que contempla a existência, os humanos, o universo, as coisas… Escreveu: “Estamos sempre em génese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos”.


Admiramos Edith Stein, - Santa Teresa Benedita da Cruz, - polaca, de origem judaica, filósofa, carmelita, que traz em sua intensa vida uma síntese dramática deste século. Nela olhamos a coragem do Padre Kolb. Ambos mártires do Nazismo que se ofereceram, vítimas do amor pelos outros.


Passamos diante da humildade e acção de Teresa de Calcutá, Mahamat Gandhi, Luter King, alguns dos últimos Papas da nossa Igreja, e inúmeros outros vultos universais que nos legaram uma herança de esperança num mundo melhor e mais sorridente.


Continuamos a cantar, como disse o nosso Camões, também ele entre os grandes, “aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando” (Lusíadas, Canto I, estância 2).


E fazemo-lo não para reproduzir os seus ditos bombásticos e bater-lhes palmas, mas a fim de nos apercebermos do homem importante que existe no íntimo de cada um de nós. Se contemplarmos a todos desta forma positiva, pode ser que, ao menos imitando-os, procuremos realizar alguma coisa útil e construtiva na vida.



Manuel Armando