IDEAIS DE IDEIAS
Muitas vezes eu tenho ouvido dizer que o
mundo se equilibra pela multiplicidade de ideias diferentes, dumas e doutras
pessoas. Contudo, ainda não descobri, ao certo, se tal asserção é assim uma verdade
insofismável. Para mim parece não o ser, porque observo as desavenças constantes
como fruto dos modos de ver diversos. Cada indivíduo se põe em bicos de pés
para defender a maneira peculiar de entender os assuntos, não aceitando que a
sua verdade seja de menos qualidade ou importância do que a do antagonista.
Daí à discussão e altercação é um ápice. E
tudo pode redundar em guerra interminável que não traz benefícios de espécie
alguma para ninguém.
Mesmo assim, deverá admitir-se a capacidade
para o mínimo consenso se os contendores baixarem, cada um, a sua voz, confrontando
mutuamente vias de acção, no propósito de se encontrarem a meio e aproveitar o
que há de positivo e útil em ambas as partes.
É evidente que, aqui, se subentende uma
dose de humildade, responsabilidade e bom senso.
Difícil este caminho? Possível se,
porventura, um por um, procurar construir a sua personalidade na certeza e
consciência de não saber tanto que não possa aprender mais dos outros, nem ser
tão pobre que não consiga partilhar algo de si com o seu opositor.
Uma boa gerência de governação surgirá
dessa conjugação de pareceres, sempre enriquecidos pela cultura e reconhecimento
por algum sentido de insuficiência ou pequenez pessoal.
Todavia, em todos os dias, se assiste ao
espraiarem-se tons e modos de conduta apresentados, supostamente, como os mais
válidos e necessários na orientação de associações, agremiações e clubes.
Aqui, estou mesmo a cismar sobre um dado
sociológico curioso. Nunca, em parte nenhuma, alguém estará confortável com os
meios e modos de conduzir-se a política. Deveria ser uma procura séria e
adequada da boa saúde para a cidade, sociedade humana.
Mas, como tal parece não acontecer, surgem
sempre os comentadores de tudo e de nada, “diplomados” contratados pelos diversos
meios de comunicação a parlengarem sobre todos os assuntos onde existirão
possíveis erros atinentes, apontando caminhos seguros (na sua imaginação,
claro), para a solução do bem-estar das comunidades. E, mesmo entre estes, há
uma discrepância de idealismos o que acarreta, desde logo, a desilusão ou
desconfiança quanto a melhores dias.
Estou, neste momento, a pensar em opinar a
escolha de todos esses comentadores, críticos de quaisquer sistemas e leis,
porque imersos numa “sabedoria inegável”, para ocuparem os lugares de governo
da nação, mesmo sem se sujeitarem a quaisquer sufrágios populares. Por que não?
Apesar de tudo, uma dúvida e um receio
agora me assaltam, pois fico a recordar-me dum facto da minha meninice.
Havia, lá na aldeia onde nasci e cresci, um
operário metalúrgico que, só porque lia, algumas vezes, o Jornal desportivo,
foi oficial e unanimemente, pelo populacho, considerado e escolhido como
técnico treinador do clube de futebol da terra.
E o resultado?…
Só, no final de cada prélio realizado, se
dava conta das desilusões, por semelhante e desastrosa opção tomada.