Quem sou

Quem sou
Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

quarta-feira, 26 de setembro de 2012


      DEPOIS DAS PALMAS

     Uma maneira de se exteriorizar acordo ou desacordo sobre qualquer coisa, ideia, atitude, pensamento, obra, prova desportiva ou outra, teatro, música, discurso e sei lá quantas mais cambiantes da vida em sociedade, serão as palmas.
     Parece, até, ser uma expressão anatómica, obrigatoriamente ensinada à criança de colo: “Bate palminhas, bate, bate palminhas…”. “Muito bem, muito bem!”
     Assim, o “macaquinho” começou a aprender o essencial básico da comunicação humana.
     A vida decorre normalmente e, em todos os quadrantes, se encontram lugares e motivos para as palmas, ainda que, muitas vezes, forçadas ou soando a falso pela ironia das convivências e conveniências.
     Dizer que não estimamos provas de apreço, manifestadas dessa forma, seria uma espécie de masoquismo anímico.
     Eu, pessoalmente, já experimentei, em milhentas ocasiões, os diversos sentidos dessas aclamações. Mas, de certo modo, sempre me fica um laivo de agrura interior, pela expectativa daquilo que virá a seguir.
     Falta de auto-estima, dir-me-ão.
    Seja.
    Receio, sobremaneira, a volubilidade dos espíritos aclamantes quando olham cada momento presente e parece não se precaver o futuro, por vezes, muito próximo.
    Evoco na minha mente o caso do Cristo, aclamado Messias, na Sua entrada em Jerusalém e pelas mesmas (?) pessoas, poucas horas volvidas, vilipendiado, acusado e condenado à morte mais vergonhosa, ao tempo.
    Porquanto as necessidades primárias ou os interesses imediatos não se alcançam, encontra-se logo razão para uma viragem de retrocesso e inevitável censura. Não é que se torne impossível suportar tal pressão mas, no mínimo, desencoraja os empreendimentos seguintes.
    A nossa constatação diária faz-nos avaliar as atitudes de quem pretende buscar a solução das suas exigências pessoais, nem sempre convenientes e adequadas, em detrimento do bom nome e direito dos outros.
    Tenho pena de quantos se deixam peitar pelas palmas e, de seguida, experimentam a desilusão e desânimo pela incompreensão ou na consciência pessoal da sua incompetência.
    Olho, por exemplo, para todos aqueles que procuram lugares da política ou governação, como são aclamados naturalmente com as palmas e, passados momentos breves, varejados pelas palmadas amargas e dolorosas de ingratidão ou má fé.
     Por tudo isto e muito mais, julgo prudente não nos deixarmos embalar pelo canto da sereia das palmas, dirigidas aos que nos palmam as coisas e a vida e, então, não teremos de passar os dias às palmadas em toda a gente.
     É que, depois das palmas “chuviscadas”, vem o dilúvio ou o autêntico tsunami das palmadas.
     E, aí desse modo, ninguém se entenderá nunca mais.