Atravessando estradas e atalhos,
Num misto de desconfiança e desilusão,
Mergulhado nas canseiras e trabalhos,
Caminho longe da vida e na solidão.
Na jornada, alguém me segue, silencioso,
Mas eu não atendo à sua preocupação;
Aproxima-se, porém, de mim, choroso,
E me segreda sua angústia e decepção.
Descobrir este grande mistério
Da presença do Senhor em cada caminhada,
E ouvir Sua Palavra é, para mim, refrigério
E alimento que vence minha dor calada.
Vegetam almas vazias e corpos ensanguentados,
Pelas veredas deste mundo rude e agreste,
E Tu, Jesus, afirmaste acerca de tais desamparados:
“Quando os assististe, foi a Mim que o fizeste”.
Sei que sou de aceitação tardia,
Ou, até, fecho meus olhos por negligência
À amorosa presença de cada dia
Das tuas benesses gratuitas de ciência.
Distribuis, diante de mim, como saboroso Pão,
Teu Corpo, em infinito amor, morto na Cruz.
Seja eu, então, testemunha da verdade que seduz
Para o desiludido da vida e sorte que é meu irmão.
Nas horas sombrias de incompreensão,
Em momentos amargos de exclusão,
Quando, por facilidade, esqueço o valor do Teu Pão
E não o reparto, por egoísmo da minha mão,
Ou trabalho, só, e nem produzo união,
Serei um pobre e, desta miséria, Te peço perdão.
Fica, fica comigo, Senhor;
Será, talvez, humilde e escura a minha mansão,
Mas Tua graça será nela radiante luz
Para eu compreender a Tua e minha cruz
E anunciar, na verdade e alegria, a ressurreição.
Fica, fica comigo, Senhor,
Pois Tua vida e calor
Serão, em mim, o segredo
Para vencer a vaidade e o medo
De proclamar a toda a gente
Que aqueces cada um, docemente,
Com a força do Teu amor.
Fica comigo, Senhor.
(Reflexão para o 3º Domingo da Páscoa, Ano A)