Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

quarta-feira, 4 de maio de 2011

FICA COMIGO, SENHOR

              Atravessando estradas e atalhos,
              Num misto de desconfiança e desilusão,
              Mergulhado nas canseiras e trabalhos,
              Caminho longe da vida e na solidão.

              Na jornada, alguém me segue, silencioso,
              Mas eu não atendo à sua preocupação;
              Aproxima-se, porém, de mim, choroso,
              E me segreda sua angústia e decepção.

              Descobrir este grande mistério
              Da presença do Senhor em cada caminhada,
              E ouvir Sua Palavra é, para mim, refrigério
              E alimento que vence minha dor calada.

              Vegetam almas vazias e corpos ensanguentados,
              Pelas veredas deste mundo rude e agreste,
              E Tu, Jesus, afirmaste acerca de tais desamparados:
              “Quando os assististe, foi a Mim que o fizeste”.

              Sei que sou de aceitação tardia,
              Ou, até, fecho meus olhos por negligência
              À amorosa presença de cada dia
              Das tuas benesses gratuitas de ciência.

              Distribuis, diante de mim, como saboroso Pão,
              Teu Corpo, em infinito amor, morto na Cruz.
              Seja eu, então, testemunha da verdade que seduz
              Para o desiludido da vida e sorte que é meu irmão.

              Nas horas sombrias de incompreensão,
              Em momentos amargos de exclusão,
              Quando, por facilidade, esqueço o valor do Teu Pão
              E não o reparto, por egoísmo da minha mão,
              Ou trabalho, só, e nem produzo união,
              Serei um pobre e, desta miséria, Te peço perdão.

              Fica, fica comigo, Senhor;
              Será, talvez, humilde e escura a minha mansão,
              Mas Tua graça será nela radiante luz
              Para eu compreender a Tua e minha cruz
              E anunciar, na verdade e alegria, a ressurreição.

              Fica, fica comigo, Senhor,
              Pois Tua vida e calor
              Serão, em mim, o segredo
              Para vencer a vaidade e o medo
              De proclamar a toda a gente
              Que aqueces cada um, docemente,
              Com a força do Teu amor.
              Fica comigo, Senhor.


                     (Reflexão para o 3º Domingo da Páscoa, Ano A)
            
           

MEU SENHOR E MEU DEUS

              Uma nova luz se abriu para iluminar
              Os caminhos terrenos de quedas e pecados.
              A morte foi vencida porque ressuscitou o Senhor
              E Sua vida nova a todos veio mostrar
              Como seriam perdoados
              Os homens que se abraçassem no amor.

              A semente lançada na terra dura
              Dos simples e humildes pescadores
              Abria-lhes a grandeza da sua missão futura,
              Como cordeiros, entre lobos vorazes e traidores.

              Ele, o Senhor, está sempre na hora mais medonha,
              Ao lado do seu fiel seguidor,
              Para anunciar a felicidade de quem sonha
              Com uma vida nova de paz e amor.

              Tolhidos pela incapacidade e incerteza
              De quem aspirou, outrora, pelos bens da matéria,
              Transformados, então, e qual brasa acesa,
              Incendeiam o mundo de miséria,
              Anunciando Jesus ressuscitado, na sua realeza.

              A fé humilde e consciente
              Alicerça a firmeza da nossa mente,
              Converte e abre as portas do coração,
              Aceita, sem peias, o Senhor na ressurreição;
              Ilumina, aquece e, logo bem cedo,
              Leva-nos a vencer a pequenez do nosso medo.

              “Meu Senhor e meu Deus!”
              Com o Teu Espírito consolador
              Lutarei contra a ignorância e a dor;
              Sou uma gota de água no oceano imenso
              Mas, pelo Teu amor intenso,
              Confio naquilo que Tua graça faz,
              Anunciando ao mundo a verdadeira paz.

              Ouvindo, na serenidade, a Tua voz
              Jamais ficarão fechadas as nossas portas
              Para testemunhar às almas, ainda, absortas
              Que não és morto mas ressuscitado e vivo, entre nós.


                                (Reflexão para o 2º Domingo da Páscoa, Ano A)

              

segunda-feira, 2 de maio de 2011

QUERO BEIJAR TUAS MÃOS

         Mãe, quero beijar as tuas mãos enrugadas,
         E agradecer todos os teus trabalhos.
         Nas suas veias correm as horas passadas
         Em sacrifício de caminhos e atalhos
         Da vida, com renúncias e canseiras,
         Nos instantes de cada dia e momento.
         Nunca viraste a cara ao sofrimento
         Nem renunciaste às dores e lutas traiçoeiras.

         Quero beijar essas mãos que me afagavam
         Enquanto no teu ventre me escondias.
         Então aí, as tuas religiosas esperanças acalentavam
         Um sonho de dor e amor e, com doces melodias,
         O fruto do teu ventre, em humildade, cantavam.

         Quero beijar tuas mãos que me acolheram,
         Ao entrar neste mundo, com um gemido,
         E, na ânsia materna, me ergueram
         Até aos teus lábios que meu débil corpo beijaram,
         Na alegria de mãe, por ter vencido
         A incerteza de um tempo atrás
         Quando duas vidas se encontraram,
         Crescendo, depois, na perfeita comunhão da paz.

         Quero beijar tuas mãos, nunca cansadas,
         Que sempre me aconchegaram ao teu peito
         Para eu saborear o teu delicioso leite.
         Mesmo não tendo tuas noites sossegadas,
         Tu sempre te reclinaste sobre o meu leito,
         Vendo, nos meus olhos, a gratidão de ter sido aceite.

         Quero beijar tuas mãos que, nos meus primeiros passos,
         Foram para mim a força da grande certeza
         Do encontro da alegria com a beleza
         Da mãe que me apertava nos seus braços.

         Quero beijar tuas mãos que, erguidas com emoção,
         Ajudaram a levantar as minhas para a primeira oração.

         Quero beijar tuas mãos que, em diária labuta,
         Amassaram a broa, o pão dos pobres,
         Fruto das canseiras, muito sangue e luta,
         Entrega, insónias e sentimentos nobres.

         Quero beijar tuas mãos que carregaram minha sacola
         Quando, em pequenino, eu corria para a escola.

         Quero beijar tuas mãos que, por amor me castigaram,
         Ensinando o caminho da virtude e honestidade,
         As mesmas que a enxada e a foice manusearam,
         Cavando e semeando em mim os sentimentos da verdade.

         Quero beijar tuas mãos, hoje, magras mas seguras,
         Sempre atentas ao meu peregrinar na vida,
         Mesmo estando com o Deus das alturas
         Serás eternamente a mãe querida.
         Como, quando criança, me ensinaste a rezar,
         Contigo, agora, em acção de graças, rezo também
         Ao Senhor que tudo fez por bondade e bem,
         Até a minha vida que tinha de começar
         No grande carinho e sacrifício de minha mãe.
      
         Num misto de profunda saudade e alegria,
         Quero ter-te sempre na minha memória;
         Lembrar-te-ei à Virgem Maria
         Mãe do Seu doce e amoroso Jesus;
         E a Deus-Pai, Senhor do Céu e da glória,
         Rogo que Ele te abrace na Sua luz.

                                                                      Manuel Armando
         (Para o Dia da Mãe, 1 de Maio de 2011)