As leis humanas, por muito elaboradas que se apresentem ou se baseiem nos argumentos mais complicados, serão sempre injustas, se aparecem com o fim de sancionarem comportamentos experimentados e não para orientarem vidas e relacionamentos interpessoais numa sociedade organizada e pacífica. E chamem-nos anquilosados, antiquados ou “botas de elástico” que, pouco ou nada, importará, até porque muitos tratados antropológicos, que vão sendo dados à estampa, nos fornecem segurança suficiente para a conservação dos referidos convencimentos sobre a vida relacionada material e espiritualmente.
Já agora, e ninguém me deve levar a mal, ainda que possa alguém discordar, quero trazer à consideração reflexiva alguns textos da Sagrada Escritura que, não sendo tratados de ciência, despoletam, todavia, discussões e comentários em todas as latitudes, no tempo e no espaço. Nuns fomentam e aprofundam acções de fé; noutros, dúvidas e, ainda, sectarismos ou negações. Nisto tudo se adquire a riqueza que engrandece o intelecto humano e a humanidade no seu todo.
Mas, vamos aos escritos. Iniciamos com o Livro do Génesis, logo nos seus primeiros parágrafos. “Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”.
Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus Ele o criou; e criou-os homem e mulher.
Deus abençoou-os e disse-lhes: “sede fecundos, multiplicai-vos…” (Gen.1/26-28)
O homem deu um nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras. Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhe fosse semelhante.
O Senhor Deus fez cair um torpor sobre o homem e ele adormeceu. Tomou, então, uma costela do homem e no seu lugar fez crescer carne.
Depois, da costela que tinha tirado do homem, o Senhor Deus modelou uma mulher, e apresentou-a ao homem. Então, o homem exclamou: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem!”
Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, e une-se à sua mulher, e os dois tornam-se uma só carne.” (Gen. 2/20-24)
Mais tarde, disse o Apóstolo Paulo: “Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, nutre e cuida dela, como Cristo faz com a Igreja, porque somos membros do seu corpo. Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande.” (1Cor. 5/29-32)
Lembro-me, a propósito, que, aquando do dilúvio, Deus terá dito a Noé que metesse na Arca um casal de cada espécie. “Toma um casal de cada ser vivo, isto é, macho e fêmea, e coloca-os na Arca, para que conservem a vida juntamente contigo. De cada espécie de aves, de cada espécie de animais, de cada espécie de todos os répteis da Terra; toma contigo um casal, para os conservar vivos.” (Gen. 6/19-20)
Podem ser longas estas citações mas, mediante o percurso dos acontecimentos deste nosso mundo actual, apresentam-se-me necessários para admitir que, neste momento, se desenrola uma série de aberrações
morais e humanas as quais incomodarão quem é dotado de bom senso e capaz de se aceitar como homem chamado a colaborar, correctamente, na obra sublime da criação.
Os modos de casamento vão-se diferenciando consoante os critérios de meio social e de crenças religiosas. Mas, pelo menos, subentende-se ou entende-se como casal um homem e uma mulher, um macho e uma fêmea e não um mais um, ou uma mais uma.
O país “orgulhou-se” por um “dia histórico”, ridicularizando-se com “uma democracia,” na qual não se aceitam ideias diferentes nem há respeito por elas, quando existem.
Diante de tudo quanto vai acontecendo, e atendendo até, que, neste momento, diminuíram os casamentos, ditos normais, torno público o meu empenhamento no sentido de um pedido a quem de direito para que me seja permitido presidir, oficiar e abençoar o enlace do meu cão que, desde há muito, anda de namoro com uma cadela, residente, aqui, no mesmo burgo. É que este plebeu canino, como os outros animais, respeita e compreende, pela sua própria índole, os valores e as leis naturais da sexualidade e da procriação.
A resposta ao referido requisito será, certamente, positiva. Assim o quero acreditar. E, por tal, no dia aprazado para o acontecimento, vai haver festa rija. Para paraninfar o acto inusual, convidarei o Primeiro Ministro e outros Ministros da nossa praça. O grupo coral presente e actuante será constituído pelos elementos dos vários partidos de esquerda e não só. Aqueles que ficaram sem quaisquer capacidades de contraposição formarão o grupo dos que, lançados na lama, apanharão as amêndoas lançadas “à rampainha”, como se dizia e acontecia no meu tempo de criança que, sem mimos doces, ia com os outros colegas para a porta da Igreja na mira de conseguir, pelo menos, uma.
O menu para o banquete está organizado já, de modo que ninguém passe por alguma carência ou vergonha. Abrir-se-á com os aperitivos de Paté, rico em carne de vaca, seguindo-se, de imediato, uma sopa a condizer. Continuará o desfile de pratos variados consoante a idade, situação física e necessidade de cada qual, a saber: “Bribon supreme”, para os mais adultos; “Nutriplus”, com vitaminas; “Chuchos”, com orelha de porco; “Purina one”, rico em borrego e arroz; “Pedigree”, com coelho e cordeiro ou galinha; “Friskies”, rico em cálcio para os dentes e ossos; “Biosch”, com tomate, para cães mais adultos; “Ossinhos Secos”, adequados a dentes mais rijos; “Snacks”, light, por causa da elegância; “Royal Canin” e “Pró-Plain” (biscuits).
Tudo isto será acompanhado, é claro, com água, para não haver problemas na condução.
Terminar-se-á com “Friskies Dental Fresh”, para que todos os “cãomensais” possam exibir um hálito fresco e dentes sorridentes.
Ora, para estes animais e outros seres que superam o entendimento e o proceder de muitos humanos, uma festa rija, assim, não é para perder-se.
P. Manuel Armando