Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

ERA UMA VEZ…Ou vamos ter festa rija.

Não será fácil prescindir de determinadas convicções, tenham as raízes que tiverem, pois elas marcam-nos pessoalmente e, também, pesam sobre as sociedades que se vão sucedendo ininterruptamente. E, nas diversas gerações, apesar de todas as vicissitudes, há valores que o são em si mesmos e, por isso, imutáveis. Digam o que disserem, aduzam as provas que queiram, mas aquilo que é a essência das coisas jamais poderá ser objecto de quaisquer transmutações.


As leis humanas, por muito elaboradas que se apresentem ou se baseiem nos argumentos mais complicados, serão sempre injustas, se aparecem com o fim de sancionarem comportamentos experimentados e não para orientarem vidas e relacionamentos interpessoais numa sociedade organizada e pacífica. E chamem-nos anquilosados, antiquados ou “botas de elástico” que, pouco ou nada, importará, até porque muitos tratados antropológicos, que vão sendo dados à estampa, nos fornecem segurança suficiente para a conservação dos referidos convencimentos sobre a vida relacionada material e espiritualmente.


Já agora, e ninguém me deve levar a mal, ainda que possa alguém discordar, quero trazer à consideração reflexiva alguns textos da Sagrada Escritura que, não sendo tratados de ciência, despoletam, todavia, discussões e comentários em todas as latitudes, no tempo e no espaço. Nuns fomentam e aprofundam acções de fé; noutros, dúvidas e, ainda, sectarismos ou negações. Nisto tudo se adquire a riqueza que engrandece o intelecto humano e a humanidade no seu todo.


Mas, vamos aos escritos. Iniciamos com o Livro do Génesis, logo nos seus primeiros parágrafos. “Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”.

Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus Ele o criou; e criou-os homem e mulher.


Deus abençoou-os e disse-lhes: “sede fecundos, multiplicai-vos…” (Gen.1/26-28)


O homem deu um nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras. Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhe fosse semelhante.


O Senhor Deus fez cair um torpor sobre o homem e ele adormeceu. Tomou, então, uma costela do homem e no seu lugar fez crescer carne.


Depois, da costela que tinha tirado do homem, o Senhor Deus modelou uma mulher, e apresentou-a ao homem. Então, o homem exclamou: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem!”


Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, e une-se à sua mulher, e os dois tornam-se uma só carne.” (Gen. 2/20-24)


Mais tarde, disse o Apóstolo Paulo: “Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, nutre e cuida dela, como Cristo faz com a Igreja, porque somos membros do seu corpo. Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande.” (1Cor. 5/29-32)


Lembro-me, a propósito, que, aquando do dilúvio, Deus terá dito a Noé que metesse na Arca um casal de cada espécie. “Toma um casal de cada ser vivo, isto é, macho e fêmea, e coloca-os na Arca, para que conservem a vida juntamente contigo. De cada espécie de aves, de cada espécie de animais, de cada espécie de todos os répteis da Terra; toma contigo um casal, para os conservar vivos.” (Gen. 6/19-20)


Podem ser longas estas citações mas, mediante o percurso dos acontecimentos deste nosso mundo actual, apresentam-se-me necessários para admitir que, neste momento, se desenrola uma série de aberrações

morais e humanas as quais incomodarão quem é dotado de bom senso e capaz de se aceitar como homem chamado a colaborar, correctamente, na obra sublime da criação.


Os modos de casamento vão-se diferenciando consoante os critérios de meio social e de crenças religiosas. Mas, pelo menos, subentende-se ou entende-se como casal um homem e uma mulher, um macho e uma fêmea e não um mais um, ou uma mais uma.


O país “orgulhou-se” por um “dia histórico”, ridicularizando-se com “uma democracia,” na qual não se aceitam ideias diferentes nem há respeito por elas, quando existem.


Diante de tudo quanto vai acontecendo, e atendendo até, que, neste momento, diminuíram os casamentos, ditos normais, torno público o meu empenhamento no sentido de um pedido a quem de direito para que me seja permitido presidir, oficiar e abençoar o enlace do meu cão que, desde há muito, anda de namoro com uma cadela, residente, aqui, no mesmo burgo. É que este plebeu canino, como os outros animais, respeita e compreende, pela sua própria índole, os valores e as leis naturais da sexualidade e da procriação.


A resposta ao referido requisito será, certamente, positiva. Assim o quero acreditar. E, por tal, no dia aprazado para o acontecimento, vai haver festa rija. Para paraninfar o acto inusual, convidarei o Primeiro Ministro e outros Ministros da nossa praça. O grupo coral presente e actuante será constituído pelos elementos dos vários partidos de esquerda e não só. Aqueles que ficaram sem quaisquer capacidades de contraposição formarão o grupo dos que, lançados na lama, apanharão as amêndoas lançadas “à rampainha”, como se dizia e acontecia no meu tempo de criança que, sem mimos doces, ia com os outros colegas para a porta da Igreja na mira de conseguir, pelo menos, uma.


O menu para o banquete está organizado já, de modo que ninguém passe por alguma carência ou vergonha. Abrir-se-á com os aperitivos de Paté, rico em carne de vaca, seguindo-se, de imediato, uma sopa a condizer. Continuará o desfile de pratos variados consoante a idade, situação física e necessidade de cada qual, a saber: “Bribon supreme”, para os mais adultos; “Nutriplus”, com vitaminas; “Chuchos”, com orelha de porco; “Purina one”, rico em borrego e arroz; “Pedigree”, com coelho e cordeiro ou galinha; “Friskies”, rico em cálcio para os dentes e ossos; “Biosch”, com tomate, para cães mais adultos; “Ossinhos Secos”, adequados a dentes mais rijos; “Snacks”, light, por causa da elegância; “Royal Canin” e “Pró-Plain” (biscuits).


Tudo isto será acompanhado, é claro, com água, para não haver problemas na condução.


Terminar-se-á com “Friskies Dental Fresh”, para que todos os “cãomensais” possam exibir um hálito fresco e dentes sorridentes.


Ora, para estes animais e outros seres que superam o entendimento e o proceder de muitos humanos, uma festa rija, assim, não é para perder-se.

P. Manuel Armando