O “PORREIRISMO”
Nos tempos que correm, sucedem-se episódios
na vida das pessoas que parecem acompanhar as necessidades sociais, como também,
o depravar-se tudo quanto é valor do antigamente.
A crise, instalada contra a vontade e sem a
colaboração do cidadão comum, poderá ser uma das causas motoras dos incidentes
a que esta sociedade quer estar anexa. Há a impressão de nada se conseguir que
não tenha, por trás de si, uma carga sociológica da tão propalada “cunha”. Ela
passou, frequentemente, a ser o maior agente empregador nacional.
Quem fala sobre tal pecha a ocupar os
espaços, por vezes, de uma forma errada por ausência de capacidades e aptidões
ou, como se diz resumidamente, idoneidade, pode referir também todos os
sectores onde a vida humana se desenvolve diariamente. Torna-se quase
obrigatório que o favorzinho seja feito, mesmo escamoteando-se quaisquer itens
daquela norma ou lei que deve reger o bom senso de uma sociedade organizada e,
mutuamente, respeitadora.
Vou-me lembrando das queixas, muitas vezes,
trazidas à tona pelas pessoas que, em concursos para determinados postos de
trabalho, não vêem respeitados os seus valores adquiridos. Embora a
classificação nos mesmos tenha sido superior para alguém, pode acontecer-lhe,
todavia, ser preterido por outrem, portador de uma fisionomia mais simpática e
atraente ou arrastando consigo alguma benesse para o agente empregador o qual
arranja sempre um álibi explicativo relativamente ao seu desvio. A partir daí,
e quando assim acontece, nada mais ou pouco pode fazer-se.
É frequente a tentação de peitar-se alguém
para obter o tal favor, pensado necessário em determinadas circunstâncias
ocasionais.
Quando o indivíduo abordado fecha os olhos
da consciência, já de si embotada, torna-se patente o grau de desigualdade e
injustiça criado, sobre o que não haverá um controle possível pois todos os
outros, seus pares, adquirem um direito de reclamar tratamentos iguais.
Poderão suceder tais acidentes nas entidades
tanto empresariais, como governativas e também eclesiais.
Até, aqui, não raro, se confundem os
conceitos de consciência moral, religião e imoralidade.
Significa isto, a Igreja ser de origem
divina, mas construída sobre homens que formam uma sociedade normal e,
obrigatoriamente, conduzida com regras, supostamente pensadas e baseadas nas
atitudes de humildade e fé.
Frequentemente serão, mesmo, aqueles que,
não tendo qualquer prática religiosa, procuram subornar quem é responsável pela
correcta condução de comunidades na área da prática doutrinal.
Se esses, por infelicidade de vistas
grossas, conseguem os seus objectivos imediatos, logo acham que o “palerma
peitado” é um “gajo porreiro”. Todos os outros passarão para o rol dos
antiquados e atrasos de vida pois não deixam que as coisas andem para a frente,
sendo mesmo considerados como causa principal de muitos abandonos, na grei do
Senhor.
Entretanto, tais pessoas não abandonam
coisa nenhuma porque já nada tinham nem eram.
Pessoalmente, eu não quero ser simpático e,
tão-pouco, “porreiro” por ainda ter a noção de que o dinheiro e os favores se
apresentam como alienantes dos valores positivos e podem dificultar,
irremediavelmente, o bem-estar comum.
O “porreirismo”, (enquanto corrente psico-filosófica dos banais), e a mentira não
estarão muito longe, entre si.