Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sexta-feira, 11 de março de 2011

DA CRUZ À RESSURREIÇÃO

Entro na vastidão do deserto
Para sentir bem perto
A voz de Deus que me chama e conduz
Até ao mistério da Cruz.
Longa e árdua é esta jornada
Com os espinhos de renúncia e sofrimento,
Mas com a esperança sempre renovada
De encontrar, a todo o momento,
A força e graça do Cristo Jesus
Que para todos é Caminho, Verdade e Luz.

Num mundo sujo e repleto de podridão,
Onde uns se empanturram com a vil riqueza,
Outros, os pobres, morrem na miséria e sem pão,
Ainda que criados e chamados todos à mesma mesa.

E o Diabo sempre a tentar que se mate a fome
Com o comer as pedras transformadas em pão;
No ódio, desespero e na ansiedade que nos consome
Quando cada um procura calcar o seu irmão.

Continua o Senhor a deixar-nos o conselho
Para aceitarmos a Palavra que da sua boca nos vem,
E orienta a conversão do nosso homem velho
Se nos dispomos a olhar, confiantes, para mais além.

Transportados à contemplação da natureza
Das riquezas fáceis, passageiras e ilusórias
Procuramos, no dinheiro e ouro, as falsas glórias
E assim tentados, cobardes, caímos de fraqueza.

Alguém segreda aos nossos ouvidos, com verdade e amor,
Que não prestemos preito a quem tanto nos mente;
E que adoremos só o Grande Deus e Senhor
Que, no deserto da vida, nos acolhe docemente.

Convida-nos o Satanás a subir ao pedestal da fama
Para mostrarmos o vazio da funesta leviandade
De uma vida sem rumo nem verdade
Construída na infidelidade do pecado e da lama.
Porém, a queda será drástica e aparatosa,
Irá desfazer-se este corpo com pés de areia,
Pois uma simples brisa, leve e silenciosa,
Derruba os incautos que, à paveia,
Na praça pública, e todos os dias,
Se reúnem para banalidades e orgias.

Tempo de quarentena e vigilância
Com preces, abnegação e penitência
No combate férreo à humana ganância,
Sempre confiando no Deus-Pai da clemência.

Aprendemos na humildade e mansidão
A carregar, a toda a hora, nossa cruz
E seguindo a via dolorosa de Jesus
Estamos seguros porque nos estende Sua mão.
Ensinando-nos o caminho certo para o Céu
Faz-se Ele mesmo nosso cireneu.

Neste mundo egoísta e mergulhado
Nas teias da matéria e do pecado,
Com Cristo venceremos sempre a tentação,
E cantaremos, com alma e coração,
Os hossanas alegres e felizes da Ressurreição.


Manuel Armando

(Reflexão para o 1º Domingo da Quaresma, Ano A)

quinta-feira, 10 de março de 2011

HUMILDADE NA ESPERANÇA

Peregrino visionário e andante,
Construo minha vida sobre ventos,
Alimento meus dias
Com fantasias.
Numa correria constante
Em busca de espaventos,
Na miragem sedutora
Que me enamora
E conduz
À derrocada,
Pois procuro a luz,
Mas encontro o vazio e o nada.

Entro no meu deserto
Com os sonhos em turbilhão;
Penso estar certo,
Ter a felicidade mesmo à mão.
Reconheço meu pecado,
Minha presunção;
Mas por Deus sou chamado
À verdadeira conversão.

Com silêncio e trabalho ardoroso,
Na caridade e oração,
No caminho longo e penoso
Rumo, seguro, à salvação.
Vou olhar sempre em frente
E pôr minha esperança na Cruz.
Quero ouvir a Palavra de Jesus
E aceitar Seu amor ardente.

Reconheço que sou pó,
Cinza, vaidade e torcida apagada.
Quero responder à chamada;
Acredito não caminhar só,
Pois Deus está sempre a meu lado,
Nesta luta pela Salvação,
Contra minha leviandade e pecado.

Em Cristo Jesus ponho a esperança
E torno forte meu coração;
Encontro radiante luz,
E fortaleço a confiança.
Aceitando minha cruz,
Abraço meu fadário,
E subo até ao Calvário,
Na dureza da escalada.
Levanto meus olhos e, com emoção,
Sinto a alma inundada
Da graça do Deus que ama
Os homens a quem chama
À alegria da Ressurreição.


Manuel Armando

(Reflexão para a Quarta-feira de Cinzas, Ano –A)

GRATIDÃO A DEUS-PAI

               Adormecer,
                             Acordar
                             E viver.
                             Sonhar
                             E amar.
                             Descobrir,
                             A sorrir,
                             A vida
                             Contida
                             No mundo
                             De um segundo.

                             Crescer
                             E ver 
                             Cada começo 
                             E o final que desconheço.
                             Assumir a força
                             Da corsa
                             Porque se anda e corre
                             Quando não morre 
                             A vontade 
                             De alcançar
                             O cume da vida 
                             Sentida
                             No amor de um divino olhar.
                            
                             O segredo 
                             Para vencer o medo  
                             De lutar
                             Está em buscar
                             O conforto e a luz,
                             No abraçar a Cruz
                             De cada dia, 
                             Com alegria, 
                             Na certeza 
                             E firmeza
                             Do bem
                             Que se tem.
                             Olho para o alto 
                             E, sem sobressalto, 
                             Busco a esperança,
                             Renovo a confiança 
                             Em Ti, Deus-Pai e Criador  
                             Pois, no momento que passa, 
                             Dás a Tua graça 
                            Ao homem pecador.

                             Por seres Quem és 
                             E com o muito que me dás 
                             Sinto-me livre e na paz,
                             Aconchegado no Teu calor. 

                             Obrigado, mil vezes obrigado, Senhor.


                                                                    Manuel Armando