Mitos, sonhos, miragens
Acorrentam o coração e a vontade
Dos homens iludidos pelas meras imagens,
Sombras esvaídas, alheadas da verdade.
Amontoam-se famas de riqueza
Num tino desenfreado, inconsequente e egoísta;
Travam-se lutas e quedas na incerteza
Da alma insegura e fatalista,
Derrotada por seu desejo fantasista,
Prostrada e exangue na sua tibieza.
O querer mesquinho torna-se inútil e traiçoeiro,
Os olhos são desviados por brilhante mas falsa luz,
Quando, em torturante altivez, o dinheiro
Promete a felicidade e o mundo inteiro
Ao homem a quem engana e seduz.
Contudo, o Senhor carrega nova e segura alegria,
Escondendo no coração humano enorme tesouro,
Que não são os despojos de efémera fantasia
Da prata ou do reluzente e pesado ouro,
Mas um bem mais elevado e precioso.
Aquele que o descobre deixa tudo para trás,
Jamais arrasta seu viver fastidioso;
Inebria-se na contemplação e na paz,
Aposta tudo no que faz
Pois, diante dos seus olhos extasiados
E no perdão dos grandes pecados,
Estão pérolas preciosas e de grande valor,
Portas franqueadas à felicidade
Em Deus, Suma e Eterna Verdade
Que o acolhe nos seus braços de amor.
Há que escolher com serena consciência:
O mundo com sua oferta transitória
Duma fugaz existência,
Ou total entrega a Deus
Que a todos os filhos seus
Oferece dádivas perenes de glória.
Não pode perder-se o tempo, em vão,
E, amanhã, poderá ser insuficiente.
Com trabalho aturado e extenuante,
Sem dúvida ou hesitação
Procure-se o diamante
Do Reino do Céu que, aceite livremente,
Nos abre as portas da Salvação,
Pois a Graça do Senhor
Será o tesouro eterno de amor
Onde se há-de perder e achar
E, para sempre, ficar
O nosso coração.
Manuel Armando
(Reflexão para o 17º Domingo do Tempo Comum, Ano A)
(Mt. 13, 44-52)