Ah! Senhor, quantos dons já eu perdi;
Reconheço isso, agora, em consciência,
Pois, com medo e vergonha os escondi,
Numa grande preguiça que vivi
Quando me deixei arrastar pela indolência.
Atei os pés,
Tolhi meus passos;
Fiquei imóvel no caminho,
Não gozei o aconchego e carinho
Dos teus abraços.
Tanta fortuna correu a meu lado!
Distraído, não lhe prestei atenção;
Mais me dei à queda no pecado,
Fechando a tudo e a todos o coração.
Foi trabalho ganhador de riqueza
Mas o resultado ficou para trás;
Porque o medo foi a minha firmeza,
E parei, cobardemente, numa suposta paz.
Deste-me a força da alegria
E não a partilhei tanto quanto podia;
Fizeste-me capaz de entender a vida,
Mas eu não suportei as suas dores
Nem mostrei os teus altos favores
A quem leva existência sofrida.
A luz que disseste eu ser
Enterrei-a, bruxuleante, no meu fundo
E, por isso, muitos não puderam ver
A grandeza da fé que faz correr
Este mundo.
Que terei eu, pois, para apresentar
Quando as contas te for prestar?
Buscarei o talento, mas sem qualquer juro
E, com desplante, talvez, me irei queixar
Deste tempo carente e duro.
Confio, porém, na Tua piedade, Senhor,
Pois tens um coração generoso e compadecido
E eu, verdadeiramente arrependido,
Procurarei outro modo de trabalhar
E, em resposta ao Teu infinito amor,
Minha terra vou lavrar,
Levando nela, meus talentos a semear.
A preguiça, espero vencer
E, quando a colheita vier,
Os dons que me foram confiados
Hão-de trazer frutos dobrados.
Jamais serei descuidado,
Medroso ou indolente,
Vingarei, com Tua Graça, o pecado
Para me tornar o servo fiel que Te apraz
E, finalmente,
Adormecer, docemente,
Nos Teus braços de paz.
(Reflexão para o 33º Domingo Comum, Ano A)
(Mt.25,14-30)