Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sexta-feira, 17 de agosto de 2012




           BEM-AVENTURADA ÉS TU”…

             Quando, ainda, o mundo não fora formado, 

                   Já tu existias no pensamento do Criador 

                   Que pôs em ti ternos olhos de amor 

                   Enquanto, assim, também era lembrado

                   O Homem pecador.


                      Nascida numa família de humildade, 

                   Onde cresceste no trabalho e oração 

                   E um silêncio moldava teu coração 

                   Em morada da Eterna Caridade

                   Que viria vencer a fealdade 

                   Do delito e maldição.


                       Bem depressa, crescendo, entendeste 

                   Os projectos do Pai e Senhor,

                   De entregar Seu Filho, como Salvador 

                   Deste mundo egoísta e tresloucado 

                   E, porque pelo Espírito, concebeste,

                   Também venceste 

                   O pecado.


                   Tua resposta foi um sim sem hesitação.

                   Aceitando a melodia da angélica voz, 

                   Votaste teu ser em perseverante doação 

                   E te tornaste mãe para todos nós.


                      Dos teus lábios saíram louvores 

                   Àquele que te concedeu tão altos favores; 

                   E, de braços levantados em cruz,

                   Te revelaste agradecida,

                   Porque escolhida,

                   Mãe de Jesus. 

                   Apressaste-te, Maria, a levar a Boa-Nova 

                   Àquela outra fervorosa mulher:

                   Isabel, a quem Deus aprouve conceder 

                   O milagre duma concepção, dando prova 

                   Do Seu augusto e divino poder.


                   A montanha pareceu arrasada 

                   Ou o vale tornado plano,

                   Quando tu, ansiosa e preocupada,

                   Puseste os pés a caminho com fervor 

                   E, cheia de sentido caridoso sobre-humano, 

                   Quiseste ajudar a mãe do Precursor.


                   “Bem-aventurada és tu entre as mulheres”.

                   Esta a saudação feliz de Isabel 

                   Quando, vindo despojada de humanos haveres,

                   Trazias já no teu ventre o fruto bendito, 

                   Prova acabada do amor infinito, 

                   - Deus-Connosco, o Emanuel.


                   Hoje, te louvamos, Virgem bendita, 

                   Elevada até ao seio de Deus-Pai,

                   Vitoriosa mas humilde no tributo 

                   De honra infinita 

                   Que em ti sobressai 

                   Pelos méritos de Cristo, Teu fruto.


                    És a Senhora

                   Auxiliadora, 

                   Mãe de um Deus de Quem és filha;  

                   Contigo todo o homem partilha 

                   Dos bens da fortuna de Salvação 

                   Pois, em Jesus nosso irmão, 

                   Encontra, a cada hora que passa, 

                   A fonte viva da Graça.

                  
                   Maravilhas fez em ti o Todo-Poderoso

                   Pela Santidade do Seu nome; 

                   Tornou o mundo menos penoso, 

                   Exaltando a eloquente beleza 

                   Do cuidado e pobreza

                   Ao serviço do irmão 

                   A quem saciou a sede e matou a fome

                   De comunhão.


                       Em todo o tempo estamos contigo, Senhora, 

                   Porque sempre foste nossa Advogada 

                   E, junto de Teu Filho, a intercessora 

                   No opróbrio do nosso nada.

                   Neste viver ingrato e agreste,

                   Pedimos que cada um se apreste 

                   Por tornar a humanidade melhor, 

                   Mais justa, merecendo de Deus o Amor.


                   Ora, porque és da gente simples, Mãe ditosa 

                   E enxugas as lágrimas dos olhos em pranto,

                   Acolhe-nos, então, na Luz radiosa  

                   Do teu manto.

                        Festa da Assunção da Virgem Maria, Ano B

                                 (Lc.1,39-56)

         ERA UMA VEZ…

    OU… O MENINO QUE APRENDEU A DIZER NÃO

    Têm sempre muita gracinha as crianças, mesmo e sobretudo quando começam a dar os primeiros passos ou a pronunciar alguns monossílabos, ainda que quase imperceptíveis.

    Nalguns pequenitos as suas habilidades são motivo de regozijo e admiração para as famílias mais chegadas que não se cansam de proporcionar ou trazer razões e ocasiões para demonstrações diversas. Nessa altura, não se regateiam elogios e vaticina-se que os “artistas” irão longe.

    Os gestos são entusiasmantes, mas as palavras ainda mal pronunciadas e incompletas demonstram, por si, a certeza de quem já aprendeu muito em pouco tempo. Começam logo as comparações evocativas dos progenitores, porque, também eles, teriam sido assim desenvoltos, nos primeiros anos de meninice. E quem sai aos seus não vai degenerar. Sempre isso continuou igual, parece agora.

    Ora este “meu” menino, com poucos meses, talvez um anito de nascido, na sua perspicácia dos passos iniciais, aprendeu e disse, antes de mais nada, a palavra “não”.

    Bem depressa se tornou conhecido que o cachopo evoluía nos saberes e noções das coisas e pessoas, repetindo a tudo e a todos a sua grande e soberba descoberta.

    Iniciou a caminhada pelo teimoso não à papa, à ordem de deixar o chapinhar na água ou abrir gavetas e outras coisas mais.

    O tempo foi avançando e o sentido do não assomava progressivamente à consciência da sua vontade de agir. Quem estava com ele continuava a achar engraçadas determinadas atitudes que deveriam ter acabado já há muito. Com extrema leveza, ia experimentando o pulso e autoridade dos que com ele conviviam e, enquanto crescia na idade, estatura e manha, a mão e a vontade dos pais enfraquecia num movimento uniformemente acelerado.

    Veio o tempo escolar e a sua recusa aos estudos e deveres de comportamentos decorria pela afirmação constante e sustentada do seu não.

  Daí para a frente começaram os solavancos do crescimento. Na sociedade, em que estava a inserir-se, com todas as suas vicissitudes inerentes iniciaram-se as perturbações sociológicas, uma vez que a noção de dependência e interligação aos outros membros activos era insustentável. O seu galopante egocentrismo fundamentava, aglutinava e absorvia todas as actividades e tudo quanto viesse contrariar isso mesmo, sintomaticamente, se tornava o óbice à ascensão de vida necessária na integração em qualquer sector do mercado de trabalho.

    Daí ao isolamento pareceu dar-se um passo de gigante. A sua aceitação por parte dos outros indivíduos entrou num fastidioso colapso.

    A via das drogas e marginalidade foi refúgio que não tardou a aparecer. Um verdadeiro desaforo e tudo quanto mais nós quisermos imaginar.

    Aquele menino que aprendera a dizer não, sem perceber inicialmente todo o verdadeiro significado disso, dera largas ao contentamento e admiração a quem encontrou nele e nas coisas algo admirável mas, por essa incúria alheia inconsciente, iniciou ele, assim também, o seu não à vida que, a tempo devido, lhe abrira os braços, contudo, impotentes porque jamais o puderam alcançar.