Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sábado, 12 de maio de 2012

“COMO EU VOS AMEI…”


                   Vamos ler um eminente testamento
                   Pejado de promessas e bons recados,
                   Algo a cumprir-se em qualquer momento,
                   Mais nas horas de angústia ou sofrimento
                   Dos irmãos, por suas dores retalhados,
                   Que, da vida desanimados,
                   Procuram compreensão a alento.

                   Não está escrito nalgum documento
                   Que o tempo corrói e esmaga
                   Nem é o efémero sentimento,
                   Em breve, votado ao esquecimento 
                   De quem em si, por leviandade, 
                   Negligência ou perversidade,
                   Tudo apaga.

                   Guardado em coração de liberdade,
                   Aberto ao aconselhado preceito
                   Quando gravado no íntimo do peito,
                   Transforma a vida da humanidade
                   Num abraço sincero de caridade,
                   E acarreta consigo o compromisso profundo
                   De tornar mais belo e feliz o mundo.

                   “Amai-vos uns outros, a cada instante,
                   Mas como Eu vos amei”, diz o Senhor.
                   Sem reservas, quebras nem tibieza,
                   O aceno dado ao irmão vacilante
                   Irradia luz, espalha força e calor,
                   Aconchega à consciência a firmeza
                   De encontrar, na humana comunhão,
                   O penhor  
                   Da Salvação.

                   Nada tão importante como a caridade
                   De quem dá a vida pelo amigo ou irmão.
                   Assim o Mestre, na suprema e livre doação,
                   Estreita com a humanidade pecadora
                   Laços que mudam a passageira fraternidade
                   Em vida plena, robusta e criadora
                   De comunhão.

                   Chamados à profunda intimidade
                   Do nosso Deus, terno e bondoso,
                   Produzimos abundantes frutos de eternidade
                   E, com o trabalho comprometido e fogoso
                   Que preenche a existência breve, vazia,
                   Antevemos um infindável e divino gozo
                   De paz e alegria.

                                 
                  (6º Domingo da Páscoa – Ano B,  Jo.15/9-17)


CATÓLICOS A MAIS, CRISTÃOS A MENOS


    É comum, no decorrer dos tempos da história humana, para todos os quadrantes das actividades e ideias, tanto sociais como políticas ou, sobremaneira, na perspectiva dos credos religiosos e de fé, haver soçobros e crises reais e também aparentes.
    Nessas circunstâncias e períodos não deixam de aparecer os pregoeiros, profetas da desgraça e calamidades catastróficas, pretendendo abalar os alicerces de tudo, até daquilo que não se funda em meras bases materiais pois possui uma raiz de e para a eternidade.
    Promovem-se, desabridamente, os temores e pânicos sobre tudo quanto pertence a um âmbito desconhecido esotérico.
    A falta de reflexão calma e prudente terá, na realidade, consequências inesperadas, sem razão, inadequadas e extemporâneas.
    Aqui surgem, vindos de todos os cantos, alguns orquestradores de promessas, veiculando esperanças esvaziadas.
    As crises agudizam-se quando os agentes responsáveis comprometidos, mas acomodados, se deixam adormecer no embalo da sereia.
    Aí é fácil “prever” a derrocada e fim de uma época de ideais e certezas que passarão para o rol dos desesperos ou facilitismos.
    Há dias atrás, fazia parte das agendas noticiosas a declaração bombástica da diminuição ameaçadora do número de católicos no país. Logo de levantaram contadores de histórias desagradáveis do terror, arautos do infortúnio e ruína final.
    Ora, quando se faz depender a eficácia da acção dos números mais ou menos dilatados, o teor e força da graça salvífica deixará de produzir frutos de Salvação. O certo é que Cristo veio tornar-Se um de nós para congregar todos os homens, sem diferenciação sobre ninguém, num só redil, conduzido por Si, como único Pastor. A Sua presença é a única Verdade com garantia insofismável.
    Também é urgente, e convém, nós não deixarmos o alarme ensurdecer-nos mas que faça acordar as consciências para a efemeridade dos bens procurados e dos deuses que se forjam consoante os interesses da época e do sector sociológico. Porque isso arrasta consigo uma avalanche de lugares-comuns sem profundidade e criadores de sonhos e desilusões.
Os ídolos sustentados no dinheiro, sexo, poder, prestígio, posições empresariais cimeiras, beleza, vida fácil e descomprometida, conduzirão inevitavelmente à negligência da procura dos valores essenciais, como o são a personalidade e a alma.
    Quando se despromove a família, em si mesma, no seio da qual deveriam vigorar o respeito e a comunhão fundamentados nos alicerces de Deus, a outra família, chamada Igreja, parece desmoronar-se sem ajuda nem apelo.
    Contudo, soe dizer-se, a esperança será a última coisa a ser vencida e, sabendo-se que essa mesma Igreja tem a sua razão de existir na sobrenaturalidade, não vai temer-se qualquer derrocada na essência. Pensamos, isso sim, que há católicos, de tradições, a mais e cristãos a menos. O epíteto nada importará mas subentende-se o compromisso, o empenhamento e a convicção pessoal interior de que “sem Mim nada podeis fazer”  (Jo.15,5).
    Num mundo frívolo e de facilidades, a qualidade há-de superiorizar-se à quantidade.
    Ele, o mundo dos homens (católicos), pode querer entrar em trevas, mas o Cristo continuará a revelar-Se como a imprescindível Luz verdadeira.