Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ERA UMA VEZ…ou quem são os trampolineiros.





Na verdade, ERA UMA VEZ, porque, agora, isso não é assim. Obrigam-nos, hoje, a desaprendermos o escrever correcto e a utilizarmos vocábulos que nada nos dizem nem significam coisa alguma.
Os erros, no tempo de escola, a nossa, eram pagos com umas palmatoadas bem sonoras correspondentes em dobro às palavras mal escritas. Lembro-me de uma calinada que, uma vez, produzi num ditado pela qual fui castigado com a leitura do Dicionário português como se se tratasse de um romance.
E recordo, também, ter de transcrever, num pequeno caderno, os termos e expressões mais difíceis dos textos e, depois, os respectivos significados para aprender, assim sempre, o sentido das palavras usadas e não chamar cão ao bicharoco que era gato.
Coisas de outros tempos, dirão.
Deveria, nestes tempos, acontecer uma evolução para melhor. Mas o que se constata é precisamente o contrário. O culto da boa escrita, no concernente à sintaxe, à morfologia ou semântica, deixou de constituir, para o geral dos indivíduos, preocupação e esmero.
Não duvido da angústia que sentirão alguns mestres quando se preocupam em transmitir as boas regras do linguajar, mas encontram, como resultado e resposta, o inverso e deixam cair os braços num desconforto e desânimo, equacionando os seus métodos pedagógicos e, até, as próprias capacidades pessoais.
O que se diz e o que se escreve são duas vertentes inevitáveis da nossa comunicação humana. Exigir-se-á existir entre estas duas actividades uma consonância aproximada, pelo menos.
É certo que há frases ou palavras de interpretação dúbia as quais, pronunciadas, significam uma outra verdade ou mentira. Variadíssimas vezes se escreve aquilo que se aprendeu oralmente, tendo, todavia, o ouvido e o hábito adulterado ou desvirtuado a ideia primária.
Também não vamos condenar quem se esforça em acertar. Todavia, mesmo assim, não podemos admitir que determinados sectores responsáveis não cuidem aquilo que lançam para o exterior.
A propósito, recordo ter reparado, neste verão, para alguns cartazes anunciadores de festas, em honra de figuras, espiritualmente significativas, as quais pautaram, segundo rezam as suas histórias, a vida pelos caminhos ou comportamentos de caridade e respeito por todos os concidadãos que gravitam neste globo terráqueo.
Os nomes de bandas e grupos, ditos musicais, aparecem numa diversificação fantasiosa e alargada. Atrai-se a atenção para as tasquinhas de “comes e bebes” que irão funcionar de forma ininterrupta, durante os períodos festivos. Os horários, as acções religiosas litúrgicas e outras circunstâncias a efectivar fazem parte do elenco desejado a promover e provocam, ainda, a curiosidade sobre o que vai ou está a acontecer.
Ora, nisto deparei com factos pouco edificantes, rememorando o caso de, quando pequenito, andar atrás dos gigantones que dançavam ao som das gaitas de foles e tambores, e os quais se nomeavam genericamente de gaiteiros. Homens honestos e trabalhadores que, nos seus tempos livres, mostravam a arte de animar anúncios e peditórios.
Mas, como mudaram de nome !...
No espelho dos diversos referidos cartazes afixados, apelidavam-se, indiscriminadamente, de “tramboqueiros”, “trambiqueiros”, “traquineiros”, “trameleiros”, “tramboliqueiros”, “trambeleiros”, “tramboleiros” e, ainda, (agora, pasme-se!) “trampolineiros”.
Por esta razão, dói-me que, sobretudo, em festividades religiosas, se chamem nomes feios àqueles que, simplesmente, são os tamborileiros.
Umas reguadas, a tempo e horas, seriam um bom antídoto para a ignorância ou maldade daqueles outros “gaiteiros” que têm as culpas do cartório. Nunca mais se trampolinariam acerca desses reconhecidos artistas populares.
   

P. Manuel Armando