Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

domingo, 6 de dezembro de 2009

O Natal que já foi



 ERA UMA VEZ…


 Ou… O NATAL QUE JÁ FOI



       Um Menino, há muitos milénios esperado, veio do Céu, naquele momento, que S. Paulo, na sua Carta aos Gálatas, chamou de plenitude dos tempos, em procura dos homens dotados de boa vontade, para lhes transmitir um recado sério sobre a verdade, a justiça e a paz, a dignidade, a felicidade e o futuro, os direitos e os deveres, a liberdade e o respeito pelos valores intrínsecos da vida ou, numa palavra, encontrou-Se no mundo com e por causa do homem em toda a sua dimensão espiritual, particular e colectiva.

       Este, o homem, não perdeu a sua individualidade, mas sobre ele recaiu  uma maior responsabilidade de procurar o sentido do seu fim último escatológico. O entendimento sobre algum determinado benefício gratuito subentendeu em si um compromisso que, podendo pôr-se de lado livremente, não deixa de ser exigente e fundamental para o total e adequado equilíbrio do ser humano e objecto de avaliação.

       É útil aprender-se que o tal Menino, Jesus Cristo, se escondeu dentro de uma natureza carnal para, nessa condição, dizer a qualquer um que pode e deve viver o projecto de amor fraterno, como abertura para a alegria e serenidade da sua existência terrena.

       Avaliamos o mundo que nos rodeia; descobrimos que nos deixamos seduzir por todas as movimentações de azáfama e de açambarcamento de quanto nos envolve na economia e no comércio. Alienamo-nos dos problemas assustadores que grassam no universo. O tumultuoso e medonho ruído das coisas tenta transportar-nos para a irrealidade. Nem damos conta que, neste afastamento da verdade, deixamos criar a base da desigualdade e da injustiça que lançam os mais indefesos para a lama da fome e da miséria.

       No emaranhado de todo o ambiente actual e na envolvência desenfreada e irreflectida dos indivíduos na materialidade, compreenderemos mais cabalmente que “Aquele que é a Palavra estava no mundo; o mundo foi feito por meio d´Ele, mas o mundo não O conheceu. Ele veio para a sua casa, mas os seus não O receberam”. (Jo.1/10)

       “N´Ele estava a Vida, e a Vida era a luz dos homens. Essa luz brilha nas trevas, trevas que não a venceram”. (Jo.1/4-5)

      
       Hoje, aparece-nos esse Deus a querer fazer jorrar, continuamente, a sua luz mas as riquezas não se deixam vencer nem limitar pela sobriedade e equidade.

       Aquele Menino que desceu procura, ainda agora, as grandes grinaldas e brocados, as labitas, os fraques e paletós, mas são os esfarrapados, de casacos esburacados e surrados, os pobres e desprotegidos que abrem as abas para aquecer O que vem. Ele bate às portas das maternidades bem confortáveis, mas, perante a recusa e negação das portas que se fecham, contenta-se em nascer debaixo de cartões podres e sacos velhos dos sem-abrigo ou nalguns tugúrios.

       Natal.

       Barulho, luzes, mesas, umas cheias outras vazias, solidariedade por um dia, cumprimentos de boas festas, rodopios sem tino nem jeito, lareiras a crepitar de calor, corpos a tiritar de frio e abandono, crianças com o nariz a escorrer ranho, idosos postergados e deixados na solidão.

       Jesus Cristo já cá está.

       Quem de nós O encontrará como Verdade plena?

       ERA UMA VEZ…

       O Natal de outrora, talvez, a todos nós encaminhava por mundos e modos diferentes.

       Agora, a cada um caberá descortinar a melhor maneira de seguir a luz do tal Menino que baixou lá das alturas.



                                   

                                                                     P. Manuel Armando