Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sexta-feira, 1 de junho de 2012

NA TRINDADE DE DEUS, A SALVAÇÃO


                   Como é penoso e tremendo 
                   Aceitar-Te, ó Deus Trinitário!
                   Tu nos chamas para, na Tua intimidade, 
                   Termos o coração aberto à verdade 
                   Do testemunho, num contínuo crescendo 
                   Missionário.

                   Ó Deus-Pai, Magnífico e Criador   
                   Que, na Pessoa de Teu Filho Jesus,
                   Enviaste ao mundo Tua Luz,
                   E o animas no Espírito Consolador 
                   Com um fogo 
                   Que, logo, 
                   Ao amor 
                   O conduz.

                   Desde os montes da Galileia,
                   Raiou a aurora de um mundo novo; 
                   Os discípulos anunciaram, à boca cheia,
                   Que, aceitando o apelo à Salvação, 
                   Os homens fariam, em comunhão,
                   Um só Povo.

                   Teu poder enche o mundo inteiro,
                   Abrange todo o Céu e toda a terra;
                   Do universo és o único Senhor
                   E onde o homem, no seu agir traiçoeiro,
                   Espalha a fome e a guerra,
                   Revelas a existência eterna do Amor.

                   Confiamos na misericórdia do Teu perdão
                   Mas, pelos caminhos ínvios desta vida,
                   Buscamos os bens da inutilidade.
                   Estendes-nos, porém, Tua poderosa mão,
                   Acolhes a cada um na augusta guarida
                   Do Teu paterno coração,
                   Onde se encontra prometida
                   A feliz tranquilidade
                   Da venturosa visão.

                   “Ide e anunciai” a todos os descuidados
                   Que Deus, aos mais angustiados,
                   Aponta novos rumos de esperança
                   E, na Sua abastança
                   De ternura e compreensão,
                   Alivia os humanos pecados
                   Daqueles que, contritos e humilhados,
                   Procuram a grandeza da Redenção.

                   Nos momentos de maldade e desnorte,
                   O Senhor estará, como prometeu,
                   Presente;
                   E, paternalmente,
                   Fará caber-nos em sorte
                   A felicidade
                   E visão de Sua Trindade,
                   No Céu.

                       9º Domingo do Tempo Comum (SS.Trindade)-Ano B.
                                    (Mt.28,16-20)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

PORQUE MORRERAM OS PERIQUITOS


        Os periquitos eram ocasião de encantamento para os meninos que frequentavam aquela casa comum.
         E, afinal, nem só as crianças se embeveciam com eles porque os adultos também gastavam alguns instantes na contemplação excitada daquelas avezinhas.
         Não era apenas a beleza das penas coloridas, o seu chilrear contínuo ou o saltitar alegre que chamavam a atenção de todos. Havia outro pormenor que se impunha pela ternura, solidariedade e exemplo.
         Um dos bichinhos arrastava consigo um mal congénito. O seu bico aparecia dobrado de modo a não poder alimentar-se por si mesmo. Todavia, onde reina compreensão e solidariedade, os problemas, ainda que graves, encontram formas adequadas de solução, mesmo no reino animal, quando não há emulações nem competição por lugares de supremacia ou rivalidade de beleza e poderio.
         Pela dificuldade e deficiência de um, o cuidado e zelo do outro.
         O companheiro do periquito defeituoso que poderia ser pai, mãe, irmão, parente ou, simplesmente amigo, postava-se em atenção permanente e não descurava nunca o sustento do seu comparsa de cativeiro. Por isso, nos momentos certos, preocupado e com solicitude, preparava a refeição, como se de mãe se tratasse, “mastigando-a” para a introduzir no bico do outro.
         Isto encantava e ensinava. Pelo menos, assim deveria acontecer.
         Os dias iam passando. Em tempo de aulas, tudo era fascinante e também os “tratadores” não esqueciam de repor as mínimas rações de alpista e outras pequenas sementes na gaiola que não era de ouro. A criançada continuava a visitar tão enternecedora e familiar companhia.
         Contudo, o evitável sucedeu. Chegaram-se os dias das primeiras férias. A algazarra da casa sofreu a respectiva pausa. Só os dois periquitos continuaram a entreter-se mutuamente. Isso, enquanto tiveram força. As portas da casa estavam encerradas e ninguém se abeirava dali para fazer chiar os gonzos e quebrar a monotonia da solidão. Até elas, as pobres aves, sem poderem sair da gaiola e procurarem alimento, calaram o seu chilreio e deambulações naquela área tão limitada.
        Então, chegou para elas o fim. Ninguém mais as lembrou, naqueles dias de férias. Não houve um gesto de gratidão pelo contentamento que elas sempre haviam proporcionado.
         Nada de comiseração nem compreensão.
       Praticamente difícil é não acomodarmos esta pequena história verdadeira à realidade de frequentes actuações humanas.
         Há pessoas, tanto crianças como adultos, que despertam ou escondem interesses e atenções, consoante a vantagem de utilização momentânea. Aproveitados nalguns momentos, passam ao ostracismo logo que outras circunstâncias, desprovidas de quaisquer compromissos, porque lúdicas, apareçam.
         Não é raro convergirem-se olhares sobre os mais novos, enquanto fazedores de variadas piruetas e momices. Todavia, quando crescem vão também experimentando uma auto-determinação que, sem bases de sustento, acabam por decair no desânimo e desilusão de si próprios, numa desorientação moral e de valores, porque não encontram a segurança daquele esteio firmado nos seus alicerces da família. E o que acontecia no tempo da primeira idade não se adequa ao crescimento seguinte. Deixaram, portanto, de ser engraçados para entrarem na desgraça do desinteresse e alheamento. Alguém responsável “parte para férias”, deixando-os presos e indefesos, entregues à sua má sorte.
         E, sem alimento, qualquer alguém se definha.
         Acontecerá, de modo idêntico, com os mais avançados na idade pois passarão à inutilidade forçada se, porventura, já não possuem as penas brilhantes das contas bancárias ou as suas energias físicas exigem muletas e ombros familiares, amigos e compreensivos.
         Por isto e mais aquilo, este mundo, tantas vezes padrasto, vai-nos explicando a razão pela qual os periquitos deixaram de entusiasmar ou interessar e… um dia, morreram.