Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

UM TOSTÃOZINHO, PRÓ S.LABINA

     Quanta saudade faz recordar os tempos de meninice, por alturas do mês dos Santos Populares. Era uma folia pegada e mesmo nós, os mais pequenos, entrávamos nos folguedos, dando largas à nossa veia imaginativa, sobretudo nas festividades do S. João. Logo pela manhã cedo, nos organizávamos e cada qual trazia uma peça e, assim, construíamos a sua cascata, com todos os ingredientes de adorno, incluindo uma pequena fonte donde escorria água límpida capaz de matar a sede ao mais sedento.
    Quando tudo estava pronto, todos os meninos e meninas pegavam numa pequena caixa e percorriam as ruas da aldeia a pedir um tostãozinho “para o S. João”. E era grande o contentamento quando, acabada a safra, ela atingia uma cifra razoável de moedas pretas que trocávamos por alguns rebuçados para delícia e delírio de todos por quem eram distribuídos, fraternalmente em justiça de igualdade.
    Os tempos passaram, mas as semelhanças voltaram. E exigentes.
    Por essa razão, lembrei-me também de encetar, mesmo sem cascata, uma recolha de fundos para as carências do S. Labina.
    Folheei o cânone dos santos e encontrei este nome sobre o qual procurei saber de quem se tratava e o que patrocinava.
    Disse-me o referido martirológio: “S. Labina, santo dos nossos dias, patrono dos esforçados trabalhadores mal pagos; poupador dos seus dinheiros e lucros bancários; pródigo de palavras em favor dos que usufruem salários ou pensões vergonhosas; visitador assíduo e comiserado dos idosos desprotegidos ou nos lares; homem, deveras poupado, que para o demonstrar em testemunho pessoal, não utiliza transportes públicos pois não dispõe de trocos para o respectivo bilhete usando, por isso, os carros económicos do Estado, a gasóleo ao preço da chuva; simpático e sempre distribuindo sorrisos de consolação; respeitador da família da qual não gasta um pataco para não emagrecer o respectivo pecúlio; homem que declara todas as suas contas certinhas, em virtude da lisura no que concerne às contribuições das finanças locais…”
    Outras coisas estavam escritas no dito compêndio, mas não foram necessárias para me convencer sobre a necessidade de fazer uma recolha de donativos na mira de obviar tamanha desgraça e facilitar o espírito de bem-fazer do nosso santo.
    Então aqui fica o meu pregão para o efeito:
    “Porque é o nosso patrono,
    Sejas tu rapaz ou menina,
    Dá-me um tostão para encher o trono
    Do pobre e bem-humorado S. Labina.