Quando saíste, Senhor Jesus, das águas correntes,
Sobre Ti, desceu o Espírito Santo, sem vaidade nem alarido,
E, aos que iniciaram vida nova em suas mentes,
Te revelaste o Messias Prometido.
Dirigiste Teu caminhar para o deserto
Do mundo caído na tristeza do pecado,
Pregando que o Reino de Deus estava perto;
E quem acreditasse seria perdoado.
Um povo que apodrecia nas trevas da morte,
Desiludido, já exangue e sem esperança,
Entregue aos desvarios da sua sorte,
Vê surgir o dia de renovar a confiança.
Tu mostraste seres Caminho, Vida e Luz
A desviar todo o homem da escuridão,
Pela renúncia e aceitação da Cruz,
Fonte de sofrimento, mas geradora de Redenção.
Não quiseste estar só, no apelo à Salvação;
Teu olhar seguro, penetrante e ameno,
Tocou com força a vontade e o coração
De alguém que descobriu, com espírito livre e sereno,
A riqueza, exigência e o compromisso da missão.
Passaste para as áridas e quentes areias,
Olhaste a enorme vastidão do mar,
O sangue correu, célere, em tuas veias,
Por um povo, também numeroso, a salvar.
Contemplaste homens e haveres bem parcos,
Prontos para a pesca da incerteza,
Sujeitos aos rigores e perigos da Natureza,
E convidaste-los a deixarem o tempo, redes e barcos.
E veio Pedro, homem indómito e pujante,
Tisnado pelo sol e habituado às andanças do mar,
Com vontade férrea e coragem ofegante
Pois, daí em diante, homens havia de pescar.
André não se quedou nas águas do descanso;
E avançou para a mesma caminhada.
Depois, mais à frente, Tiago e também João
Deixaram para trás uma tarefa começada
Seguindo-Te, Bom Jesus, pela áspera estrada,
Em busca de uma perdida e aturdida multidão.
Hoje, neste mar encapelado do nosso mundo,
Chamas homens e mulheres, e a mim
A aprender de Ti o sonho profundo
De lutar pelos direitos e deveres da verdade até ao fim.
Quantas vezes, Senhor, eu me agarrei aos meus haveres:
Ao tempo, à família, ao sossego ou à diversão;
Fechei meus ouvidos, meus olhos, meu coração;
Desprezei teu convite amoroso à liberdade
De entrega e ajuda à comunidade.
Perdoa minha apatia e negligência,
Meu desinteresse, preguiça e abandono;
Não me deixes perder na indolência
E Tua graça me desperte do profundo sono.
Quero hoje, agora e aqui, meu Bom Senhor,
Tomar o compromisso de ouvir Tua voz;
Vencer minha passividade e o egoísmo atroz,
Lançar as redes da vontade, da fé e do amor.
Manuel Armando