Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sábado, 20 de fevereiro de 2010

ERA UMA VEZ…OU… A VIDA COR-DE-ROSA

Promove-se e apregoa-se, aos quatro ventos, aquilo que alguém apelida de imprensa “cor-de-rosa”. Ela é uma tonalidade um tanto hermafrodita que serve, quase exclusivamente, para esconder grandes problemas humanos, sociais e individuais.


Através desta escrita espevitam-se, enormemente, a curiosidade e a morbidez de quantos, também, procuram escamotear as suas carências culturais ou incapacidade de vontade em ordem ao acompanhamento sociológico e incremento das faculdades de inteligência pessoal. Parece, assim, uma alienação perigosa da vida real e o afastamento de uma seriedade da qual a actuação particular deveria exornar-se para um adequado desenvolvimento comunitário.


Nos escaparates das papelarias e quiosques enxameiam as mais diversificadas publicações, avidamente procuradas por um público de craveira intelectual a roçar o medíocre, que se digladiam mutuamente numa luta fortíssima, e quase cega, em busca de vendas e lucros ou hipóteses de sobrevivência, apenas.


Assim, por este veículo, as pessoas e os seus nomes bailam de boca em boca, tornando-se paradigmas de atitudes e estados de vida socializada. Figuras, ditas proeminentes, dos vários sectores, camadas e extractos de grupos da política, da arte e outros são, embora frequentemente ridicularizados, tornados regra e espelho de conduta para o “modus vivendi” dos nossos dias. As suas atitudes e usos são extirpados na praça pública pelo julgamento fácil e ironia desbocada.


Apesar de um tal perigo ser eminente, o caminhar de muitas famílias, de jovens e adultos é pautado por tudo quanto se lê ou imagina sobre determinadas personalidades trazidas, deste modo, para a ribalta diária. A vanidade de diversas existências passará a ser o estereótipo de uma sociedade que se vai construindo sem alicerces e sem elos de ligação nem leves nem profundos, ou melhor dizendo, nenhuns.


As relações humanas, que deveriam ser criadas e desenvolvidas na base da empatia recíproca dos indivíduos, traduzem-se numa ligeireza entediante e angustiosa.


As cores berrantes, contrastantes entre si, os brocados e as cambiantes das vestimentas ou adornos brilham, irradiam ou reflectem os raios luminosos dos candelabros, nos grandes salões, ou sob os holofotes dos estúdios televisivos e, frequentes vezes, escondem verdades e impedem os olhos de conhecerem o esconderijo da miséria que assola e ameaça fazer vacilar os fundamentos de uma edificação humana insegura.


E o pior de tudo isto é que um mundo que devia transformar-se para melhor, começa a mostrar frutos de destruição dos valores e dos indivíduos. É, portanto, uma existência que desliza, aceleradamente, para a derrocada completa, porque erigida em estacaria já apodrecida e exangue.


Incorremos numa ilusão tremenda quando reparamos como programas, plenários, encontros e debates se ocupam, nos locais e horários nobres, das coisas que, consigo, não acarretam sentido nem importância e, até deixam muitos, revoltados ou partidos na sua verticalidade, pois acabam por entender que as grandes dificuldades e problemas são omitidos e não se afloram para se evitarem empenhamentos ou inquietações de consciência. Parece que gravitar-se na panaceia é mais cómodo.


Há situações e factos que não merecem qualquer atenção, nem para má-língua.


Os mexericos são frutos envenenados, porque enraizados numa vida vã, e produtores, ainda, de actuações frívolas e efémeras que, nada trazem de positivo ou contribuem em direcção ao bem estar das gentes, num futuro próximo, o qual se deseja mais risonho e diferente daquele que, hoje, experimentamos.
P. Manuel Armando