Navegamos nas águas revoltas e inseguras
Em busca de sonhos e quimeras,
Sob a pressão da incerteza e do medo,
Porque mais tarde ou cedo,
Nas provações áridas e duras,
Arreganham-se dentes afiados de feras,
Na espreita traiçoeira e voraz
Que nos amedronta e rouba a paz.
Grita-se ao mundo que, fechando o coração,
Vive no egoísmo, injustiça, contradição.
Procura-se refúgio e segurança,
Mas o vazio, a indiferença e desconfiança
Arrastam consigo o amargo da desilusão.
Já a humanidade perdeu o seu norte
Pois assenta nos bens o seu conforto.
Balanceando-se na ruína e à sua sorte,
Não encontra a direcção dum bom porto,
Mas há-de ver que o uso, apenas, da matéria
É caminho aberto e rude para a miséria;
O seu espírito não poderá encontrar
A serenidade ou força do bem-estar.
Assim, a vida
Esvaída,
De braços caídos, em premente agonia,
Sem ânimo e na total solidão,
Procurará quem lhe restitua a alegria
E lhe estenda, com amizade segura,
A encorajante ternura
Da sua mão.
“Tende confiança. Sou Eu. Não temais”.
Diz o Senhor, por entre a procela,
Caminhando sereno e sempre atento.
E, porque valemos o preço das aves e muito mais,
Imperando com autoridade, singeleza e cautela,
Faz amainar as vagas e parar o vento.
Dá o Seu braço,
Aconselha o primeiro passo
A quem Nele sempre queira confiar,
Pois não deixará ninguém naufragar.
No meio das tempestades da vida,
Corre o Senhor, por sobre as águas,
A apagar as nossas mágoas,
Com amor e doação sentida.
Incute, ó Deus, em nós a coragem
De sermos, no mundo, a Tua imagem.
E, caminhando pelo nosso próprio pé,
Te alcancemos na verdade da Fé.
Manuel Armando
(Reflexão para o 19º Domingo do Tempo Comum, Ano A)
(Mt.14,22-33)