Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

NA VERDADE E NA PAZ, ENCONTRAMOS DEUS

              Quem é aquela gente
              Que partiu do Oriente,
              Guiada por uma estrela
              De luz cintilante e fulgente,
              E, enfrentando qualquer procela,
              Calcorreou as areias do deserto,
              Galgou vales e montes,
              Matou a sede em puras fontes,
              Saciando a esperança de estar perto
              O Sol do eterno fulgor,
              Anunciado pelas Escrituras
              Como Rei de todas as criaturas
              Das quais era Messias e Senhor?

              São uma multidão que vem
              Buscando a Verdade,
              Nascida em Belém
              E trazendo à humanidade
              O profundo sentido para a vida
              Sofrida.

              Todos os povos da terra
              Poderão ver 
              A Salvação do nosso Deus,
              Se depuserem as armas que fazem morrer
              E pararem a guerra,
              Rogando dos Céus 
              A misericórdia e o perdão
              Para os homens viverem a paz
              Em qualquer trabalho capaz
              De concórdia e comunhão.

              Revelado o Menino, Deus e Senhor,
              Em augusta presença silenciosa,
              Num recanto do mundo esfomeado
              Da Sua graça e calor,
              Torna-se a luz esplendorosa
              No coração do homem que, na dor,
              Se levanta para vencer seu pecado.

              A vida há-de encontrar outro rumo
              Quando aberta à alegria da fidelidade;
              E, abraçando a verdade,
              Descobrirá a matéria como fumo
              Ou cinza que engana e seduz.
              Mas a verdadeira realeza
              Renasce na certeza
              De quem encontra e segue Jesus.

                               (Festa da Epifania, Ano B – Mt.2,1-12)
 

NO CREPÚSCULO DO NATAL

         Já pertence ao passado o Natal. Claro, que me reporto ao aniversário de um nascimento celebrado há poucas horas, ou dias atrás.
         Todavia, há sempre alguma coisa, por mais ínfima que seja, a permanecer na retina dos nossos sentimentos e a inquietar a rotina de todos os dias. Os resquícios de uma festa deixam-nos sempre uns laivos doces ou amargos na sensibilidade da memória.
         As crianças, sempre elas, exibem determinadas atitudes que nos confundem a nós, que nos pretendemos adultos enfrentando os acontecimentos com muita leveza, para não dizer leviandade, sem atendermos à profundidade de alguns sinais que interrogam as mentes distraídas ou adormecidas.
         Este caso, hoje, conto-o em duas penadas.
         O presépio foi montado na muita singeleza, em frente da Igreja Paroquial, com as tradicionais figuras, de linhas esguias estereotipadas. Tudo conforme e condizente ao dia que se aproximava. No centro, lá se colocou a manjedoura que havia de receber a imagem de um tal Menino que ainda “não era nascido”.
         Começou o corrupio dos mirones que afluíam a darem as suas achegas e sentenças, adequadas umas, outras inconvenientes.
         Aquela menina, porém, com olhos de gente adulta, observou as coisas noutro prisma. Naturalmente o mais ajustado. Ela, nos seus magriços três anitos de idade, reparou com inquietação que nem tudo estava em jeito. Deixou a mão de quem a segurava, correu e, atravessando a estrada, entrou em casa. O relógio não tinha marcado dois minutos mais, quando ela regressou, pressurosa e com grande ar de felicidade estampada no rosto, trazendo um dos seus bonecos de estimação que colocou no tal “berço” desabitado.
         Ficou radiante. Tinha feito o que devia, porque os grandes não se “haviam lembrado” de tal.
         Episódio banal, dirão alguns. Ora, muito pelo contrário. Para mim foi momento alto que me permitiu entrar no meu silencioso íntimo e meditar.
         Tanta festa com luzes cintilantes multicolores, músicas de época, vestidos novos, prendinhas, encontros, banquetes e mais coisas por aí além, sem nunca acabar. Um presépio bem engendrado com todas estas coisas e aparato.
         Mas… o Menino, onde esteve ou ficou esse Menino?
         Comemoração e algazarra na ausência do aniversariante.
         É extremamente fácil erigir uma cabana vazia, sem vida. Aparências e vanidades.
         A minha gratidão à petiza, Leonor Maria, por me fazer, uma vez mais, aterrar e ter de procurar um Jesus vivo, Aquele que transmite valores transformadores ao mundo e às consciências.


                                                                 Manuel Armando