Entraste, Senhor, no palco da vida
Sem prévia notícia nem alarido
E coroaste a esperança quase perdida
Dos que rejubilaram por teres nascido.
Cresceste sereno na oração e trabalho,
Abriste teu tempo a quem dele precisou,
Mostraste ser Caminho e não atalho
Para todo o homem que Te aceitou.
Na vida pública Te mostraste
O arauto da concórdia e da verdade.
Sem receio, mas com firmeza, denunciaste
Os arrogantes, os soberbos e os injustos,
E todos os delatores da humanidade
Que fizeram, depois, pesar sobre Ti duros custos.
Calcorreaste vales e montes,
Comeste com os pobres e pecadores,
Deste a beber água das celestiais fontes,
Verberaste a prosápia dos grandes e senhores.
Nada temeste por tal atitude;
Tinhas como missão, nobre e sublime,
Mostrar ao Homem, caído no pecado,
Como só toda a virtude
O eleva e redime,
E que, se acreditar em Deus, será exaltado.
Por tudo quanto disseste
E fizeste,
Te quiseram como Rei,
Mas Teu amor era outra lei.
Refugiaste-Te no silêncio e humildade
Duma realeza para a eternidade.
Subiste ao Templo de Jerusalém,
Inflamaste entusiasmos e ardores nas almas;
Estenderam, por isso, pelo caminho além,
Oliveiras da paz e, do martírio, as palmas.
Também eu, Senhor, corri a Teu lado
Na alegria quase desmedida e promissora
De Te seguir sempre pela vida fora,
Mas detive-me, a meio, envergonhado;
Juntei-me àqueles infames grupos
Que Te vaiaram com apupos,
Nas cruciais e amargas horas de tormentos.
Senhor, eu nem desejo lembrar tais momentos.
Perdoa, sim, ao meu coração contrito e humilhado
A antiga indiferença ou descuido cobarde e sossegado.
Grato pela Tua entrega no patíbulo da Cruz,
Te rogo: não leves em conta a minha deserção.
Que possa eu compreender a Tua mortificação,
Para Te amar e viver Contigo, Bom Jesus.
Manuel Armando
(Reflexão para o 6º Domingo da Quaresma,
Dia de RAMOS, Ano A)