Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sábado, 25 de junho de 2011

DAR PARA LIBERTAR

                        Penoso é o desprendimento da vida,
                        Nas suas coisas, êxitos e alegrias,
                        Do aconchego duma família sentida
                        No doce convívio de todos os dias.

                        Desprender
                        Não é morrer 
                        É olhar mais além
                        Para Quem
                        Chama a uma causa maior
                        E compensa com o infinito amor.
                        Deixar pai, mãe e mais o que seja,
                        É pegar na coragem duma Cruz,
                        Seguir o cativante Jesus
                        E encontrar tudo quanto se deseja.
             
                        Procurar a felicidade escondida
                        No coração amoroso de Cristo,
                        Buscar a bonança perdida
                        Pelo pecado da ganância,
                        Da dúvida e petulância
                        Do bem que, jamais, eu conquisto.

                        Penso ganhar o mundo todo,
                        Sem esforço de renúncia ou trabalho;
                        Mergulho no vazio e lodo
                        Da vaidade que me esconde quanto valho.

                        Mas, vencidas as torpezas de pecador,
                        Por vontade de me entregar ao Senhor,
                        Correrei, por entre os povos,
                        Anunciando os projectos novos
                        Da Graça e da Salvação
                        A todo o homem, meu amigo,
                        Faminto, mendigo
                        E meu irmão.

                        Serei mensageiro 
                        Da concórdia e da paz;
                        Quero levar na minha sacola
                        O que recebi, por esmola;
                        Não o vil dinheiro
                        Mas a tranquilidade e alegria
                        Que, no decurso do meu dia,
                        Tu, Senhor, sempre me dás.

                        É uma palavra simples de carinho,
                        Um copo de água fresca que mata a sede,
                        A companhia, no áspero e longo caminho,
                        Para quem, mesmo em silêncio, me pede
                        O naco da vida e desprendimento.
                        Com o olhar bem firme na árvore da Cruz,
                        Sei que não perco a justa recompensa
                        Da alegria imensa
                        Por me encontrar no seguimento
                        Das pegadas de Jesus.

                                                              Manuel Armando

                        (Reflexão para o 13º Domingo Comum – Ano A)
                                               (Mt. 10, 37-42)
                 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

OS NOVOS CELIBATÁRIOS

     As coisas, ideias, atitudes, os conceitos e os preconceitos, diz-se, mudam com os tempos. Consoante as temperaturas climatéricas de lugar ou conveniência, os valores deixarão de o ser, enquanto o que for desajeitado e excêntrico passa a norma de vida. O mais estranho nisso é o pensar-se estar tudo bem assim e que o contrário representa apenas apanágio para quem se agarrou a teorias dum passado sem qualquer peso de expressão.
    E peculiar, ainda, o facto de um idêntico valor continuar a existir como propósito obrigatório de vida só para vocacionados, aliás largamente contestada, passando, então, a mesma vivência a ser, para a maioria dos jovens, índice de modernidade (leia-se modernice), baseando-se numa falsa liberdade.
    Passo a explicar-me sobre as minhas congeminações.
    A virtude da castidade é um desafio para todos os cristãos, e também para outras pessoas seguidoras de religiões diversas onde se praticam ensinamentos sérios de moral sexual, independentemente da condição de se ser solteiro ou casado, uma vez que ela, a castidade, consiste em viver a sexualidade de acordo com a espiritualidade cristã interior.
    O celibato, por seu turno, integra a opção ética pessoal de quantos caminham na abertura à disciplina e entrega ao sacerdócio secular ou regular e também à vida religiosa masculina e feminina, assumindo os votos de castidade, de obediência e pobreza, conforme os casos.
    Este estado sempre tem sido origem de controvérsia na aceitação e admiração e, muitas vezes, de condenação e repulsa.
    Na verdade, torna-se precisa a análise criteriosa de sabedoria em ordem à vocação de vida que é proposta a todos, sem excepção. Cada qual, porém, se abrirá ao seu chamamento tanto quanto encontra as capacidades positivas do seu agir humano espiritual, numa projecção escatológica.
    Relendo o Evangelho, deparamo-nos com o sublinhar a atitude espontânea de praticar a continência que não é a castração física mas a dedicação consciente e plena às causas do Reino de Deus.
    “Nem todos compreendem esta linguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferência dos homens e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender, compreenda” (Mt. 19, 11-12).
Ora, nestes nossos dias, mercê das transformações e mutações sociológicas de mentalidades interesseiras que aparecem superficiais, caminha-se para a exibição de experiências momentâneas numa sociedade que nasce torta, em família desconectada ou profundamente desconjuntada. As vivências antecipadas e extemporâneas cansam antes de atingirem os seus finais adequados. Rapazes e raparigas optam por passar a idade num exercício de abelha picando apenas onde sente o néctar do prazer. Chegado porém o cansaço psicológico, tudo se desmorona, partindo cada qual para diferentes pousos e outros ensaios.
    São formas hedonistas de se experimentar um novo “celibatarismo” sem continência nem castidade, longe do caminho de respeito, verdade e co-responsabilidade.
    Pressupõe-se, então e de momento, perguntar por que razão a comunidade, que se perde e enerva nos engulhos pela vida dos consagrados, não se interroga também mais preocupadamente acerca dos novos celibatários a quem não só tolera tudo como até incentiva tal procedimento enquanto, por sua vez, recrimina aqueles que, por um ideal mais alargado e sobrenatural, se entregam ao serviço da solidariedade e caridade, sem olharem para trás quando põem as mãos no arado.
    A disciplina, livremente acatada, permanece actual e envolta num compromisso difícil mas compreendido, enquanto continua a soar o convite para que todos procurem os seus centros de interesses muito para além do puramente carnal, pois ver o mundo com olhos de Deus é mais benéfico e superior que limitar-se à agradabilidade e traição da cegueira humana.


                                                                                          Manuel Armando


        

segunda-feira, 20 de junho de 2011

EU, NA TRINDADE DE DEUS

              Dobro meus joelhos, com temor e humildade,
              Diante da Omnipotência de Deus
              Presente na Terra e nos Céus,
              Em Sua infinita e amorosa Trindade.

              No acto da Criação
              Estava eu, já, no eterno pensamento
              Do Pai, quando pela Sua mão,
              E naquele momento,
              Me entregou ao Seu Jesus
              Que, da Cruz,
              Olhou para mim
              E, assim,
              Virou minha condição
              Ao doar Sua carne e Seu sangue
              Enquanto, quase exangue,
              Me arrastava na tentação do pecado
              Para não aceitar ser chamado
              A vencer a miséria e a dor.
              Agora, o Espírito Consolador
              Continua a obra meritória
              De confirmar a ditosa história
              Deste filho e criatura
              Que recebeu a alvura
              Da vida suprema e transcendente,
              Em plenitude de amor
              Pelo poder omnipotente
              De Deus, Pai e Senhor.

              Cantarei a Sua Grandeza
              Pelos dons da Natureza;
              Elevarei estas mãos ao Seu nome,
              E Nele saciarei a minha fome.
              Agradecerei a força da Sua graça
              Que, em cada tempo que passa,
              Me assiste e sustenta
              Nesta caminhada dura e lenta.

              Curvado diante de tão augusto mistério
              Das três Pessoas num só Deus,
              Creio no Pai pois, em agradável refrigério,
              A todos manda ouvir Sua voz;
              Em Cristo Jesus que nos tornou irmãos seus
              E no Espírito Santo, alma de todos nós.

                                                        Manuel Armando

                   (Reflexão para o 12º Domingo do Tempo Comum,
                          - Santíssima Trindade – Ano A)
                                                     Jo.3,16-18