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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

sexta-feira, 24 de junho de 2011

OS NOVOS CELIBATÁRIOS

     As coisas, ideias, atitudes, os conceitos e os preconceitos, diz-se, mudam com os tempos. Consoante as temperaturas climatéricas de lugar ou conveniência, os valores deixarão de o ser, enquanto o que for desajeitado e excêntrico passa a norma de vida. O mais estranho nisso é o pensar-se estar tudo bem assim e que o contrário representa apenas apanágio para quem se agarrou a teorias dum passado sem qualquer peso de expressão.
    E peculiar, ainda, o facto de um idêntico valor continuar a existir como propósito obrigatório de vida só para vocacionados, aliás largamente contestada, passando, então, a mesma vivência a ser, para a maioria dos jovens, índice de modernidade (leia-se modernice), baseando-se numa falsa liberdade.
    Passo a explicar-me sobre as minhas congeminações.
    A virtude da castidade é um desafio para todos os cristãos, e também para outras pessoas seguidoras de religiões diversas onde se praticam ensinamentos sérios de moral sexual, independentemente da condição de se ser solteiro ou casado, uma vez que ela, a castidade, consiste em viver a sexualidade de acordo com a espiritualidade cristã interior.
    O celibato, por seu turno, integra a opção ética pessoal de quantos caminham na abertura à disciplina e entrega ao sacerdócio secular ou regular e também à vida religiosa masculina e feminina, assumindo os votos de castidade, de obediência e pobreza, conforme os casos.
    Este estado sempre tem sido origem de controvérsia na aceitação e admiração e, muitas vezes, de condenação e repulsa.
    Na verdade, torna-se precisa a análise criteriosa de sabedoria em ordem à vocação de vida que é proposta a todos, sem excepção. Cada qual, porém, se abrirá ao seu chamamento tanto quanto encontra as capacidades positivas do seu agir humano espiritual, numa projecção escatológica.
    Relendo o Evangelho, deparamo-nos com o sublinhar a atitude espontânea de praticar a continência que não é a castração física mas a dedicação consciente e plena às causas do Reino de Deus.
    “Nem todos compreendem esta linguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferência dos homens e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender, compreenda” (Mt. 19, 11-12).
Ora, nestes nossos dias, mercê das transformações e mutações sociológicas de mentalidades interesseiras que aparecem superficiais, caminha-se para a exibição de experiências momentâneas numa sociedade que nasce torta, em família desconectada ou profundamente desconjuntada. As vivências antecipadas e extemporâneas cansam antes de atingirem os seus finais adequados. Rapazes e raparigas optam por passar a idade num exercício de abelha picando apenas onde sente o néctar do prazer. Chegado porém o cansaço psicológico, tudo se desmorona, partindo cada qual para diferentes pousos e outros ensaios.
    São formas hedonistas de se experimentar um novo “celibatarismo” sem continência nem castidade, longe do caminho de respeito, verdade e co-responsabilidade.
    Pressupõe-se, então e de momento, perguntar por que razão a comunidade, que se perde e enerva nos engulhos pela vida dos consagrados, não se interroga também mais preocupadamente acerca dos novos celibatários a quem não só tolera tudo como até incentiva tal procedimento enquanto, por sua vez, recrimina aqueles que, por um ideal mais alargado e sobrenatural, se entregam ao serviço da solidariedade e caridade, sem olharem para trás quando põem as mãos no arado.
    A disciplina, livremente acatada, permanece actual e envolta num compromisso difícil mas compreendido, enquanto continua a soar o convite para que todos procurem os seus centros de interesses muito para além do puramente carnal, pois ver o mundo com olhos de Deus é mais benéfico e superior que limitar-se à agradabilidade e traição da cegueira humana.


                                                                                          Manuel Armando


        

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