Sedutor é o mundo, em nosso redor,
Com todos os atractivos e devaneios;
Nele pomos os olhos cheios
De esperança e fulgor
Pois, para nós, brilham os seus seios,
Úberes de promessas fáceis de amor.
Espraiam-se, até longe, no deserto,
Os desejos e ardentes esperanças.
Pela leveza do pensar perto,
Alargam-se ainda mais as distâncias
Entre o bem procurado
E seu fruto encontrado.
A vida,
Aturdida,
Perdida
No tempo e sua falsa imagem,
Adormece
E entorpece
Na enganadora miragem
De tudo possuir,
Sem acautelar
O porvir
Que não se faz anunciar.
A meio da noite, em plena escuridão,
Enquanto no sono profundo,
E abraçado nas teias do mundo
Numa enorme ilusão,
Alguém ouve os gritos
De corações inquietos e aflitos.
Procura-se, então, a luz
Em tudo o que seduz;
Mas, somente, o engano
Do agir material e humano
Vem à mão
Insensata, descuidada e sem acção.
Momentos antes do arrebol,
Vislumbram-se já as montanhas
Que trazem nas suas entranhas
O raiar dum novo Sol.
É o noivo que chega para o festim
E, assim,
Os convidados,
Acordados,
Em grande alarido
De entusiasmo mal contido,
Se aprontam para entrar.
Mas, nalguns e, dentro do peito,
Algo lhes está a segredar
Que, por própria negligência
E insolência,
O seu sonho é desfeito
Pois suas lâmpadas se vão apagar.
Terão de voltar atrás,
Refazer caminhos e acções,
Vencer preguiças e distracções,
Buscar dias de paz,
Bater à porta da confiança,
Prometer uma sincera mudança
Para ter a certeza
De poder sentar-se em farta mesa.
Continuemos, nós também, vigilantes,
Colaborantes,
Despertos,
Seguros nos passos certos.
E, quando vier o noivo Jesus,
Vida, Verdade e Luz,
Bem longe da insensatez e indiferença,
Mostremo-nos, em vigor e firmeza,
Como noiva que, sempre atenta,
Dá testemunho de vida ou pertença,
E, na fidelidade à perseverança,
Se alimenta
Da fé e confiança,
Empunhando na mão
A humildade e a paixão
Duma candeia sempre acesa.
Manuel Armando
(Reflexão para o 32º Domingo Comum, Ano A)
(Mt.25,1-13)