Como imaginar que o Homem criado,
No auge da inocência,
Tenha caído pelo pecado
Da desobediência?!
Passeava no Paraíso tranquilo da felicidade,
Onde não experimentava a dor nem morreria,
Mas o mau uso da sua liberdade
Abriu-lhe as portas da mortalidade
E o fez escravo de feroz tirania.
Não mais houve paz segura ou confiança
A nortear o ser, feito inteligente e feliz;
Da certeza acabada, apenas a esperança
Subentende, agora, a luta para a mudança,
Na procura do bem-estar que o mal contradiz.
Foram esquecidos o respeito e a tranquilidade,
Desencadearam-se a ira e a guerra,
Tornando, por isso, caótica a nossa terra,
Povoada de desamor e leviandade.
Numa desmesurada sobranceria,
Muitos exibem, somente, presunção e vilania.
Impondo pesados fardos em ombros alheios,
E, apertando-os nos falsos arreios
De vazia e desvirtuada autoridade,
Pisam o pobre com vergonhosa crueldade.
Postados nos píncaros da vaidade,
Ocupam assentos que não são os seus,
Fazem-se passar por mestres e doutores;
Arrogando-se como vozes de autoridade,
Cobram saudações públicas e altos favores
Pelas leis iníquas de que se tornaram autores
E corifeus.
Arrogantes no seu saber e suposto poderio,
Ditam normas que outros cumprirão,
Enquanto, eles mesmos, se escondem, de olhar frio,
Com desdém e dureza de coração,
Por trás da sagacidade e incoerência
Do dizer
Mas não fazer
E, assim, tentar adormecer
Sua leviana consciência.
O Cristo Jesus verbera uma igual atitude,
E chama os homens ao caminho da virtude.
Pela união e fraternidade
Da acção na humildade,
Lembra que só Ele é o Senhor,
Sendo nós todos filhos do mesmo Deus.
Ninguém, pois, se exalte nem ache o maior
Para que, remidos por generosa e divina dor,
Vivamos, em comunhão de amor,
O Reino dos Céus.
Manuel Armando
(Reflexão para o 31º Domingo Comum, Ano A)
(Mt.23,1-12)
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