Entro na vastidão do deserto
Para sentir bem perto
A voz de Deus que me chama e conduz
Até ao mistério da Cruz.
Longa e árdua é esta jornada
Com os espinhos de renúncia e sofrimento,
Mas com a esperança sempre renovada
De encontrar, a todo o momento,
A força e graça do Cristo Jesus
Que para todos é Caminho, Verdade e Luz.
Num mundo sujo e repleto de podridão,
Onde uns se empanturram com a vil riqueza,
Outros, os pobres, morrem na miséria e sem pão,
Ainda que criados e chamados todos à mesma mesa.
E o Diabo sempre a tentar que se mate a fome
Com o comer as pedras transformadas em pão;
No ódio, desespero e na ansiedade que nos consome
Quando cada um procura calcar o seu irmão.
Continua o Senhor a deixar-nos o conselho
Para aceitarmos a Palavra que da sua boca nos vem,
E orienta a conversão do nosso homem velho
Se nos dispomos a olhar, confiantes, para mais além.
Transportados à contemplação da natureza
Das riquezas fáceis, passageiras e ilusórias
Procuramos, no dinheiro e ouro, as falsas glórias
E assim tentados, cobardes, caímos de fraqueza.
Alguém segreda aos nossos ouvidos, com verdade e amor,
Que não prestemos preito a quem tanto nos mente;
E que adoremos só o Grande Deus e Senhor
Que, no deserto da vida, nos acolhe docemente.
Convida-nos o Satanás a subir ao pedestal da fama
Para mostrarmos o vazio da funesta leviandade
De uma vida sem rumo nem verdade
Construída na infidelidade do pecado e da lama.
Porém, a queda será drástica e aparatosa,
Irá desfazer-se este corpo com pés de areia,
Pois uma simples brisa, leve e silenciosa,
Derruba os incautos que, à paveia,
Na praça pública, e todos os dias,
Se reúnem para banalidades e orgias.
Tempo de quarentena e vigilância
Com preces, abnegação e penitência
No combate férreo à humana ganância,
Sempre confiando no Deus-Pai da clemência.
Aprendemos na humildade e mansidão
A carregar, a toda a hora, nossa cruz
E seguindo a via dolorosa de Jesus
Estamos seguros porque nos estende Sua mão.
Ensinando-nos o caminho certo para o Céu
Faz-se Ele mesmo nosso cireneu.
Neste mundo egoísta e mergulhado
Nas teias da matéria e do pecado,
Com Cristo venceremos sempre a tentação,
E cantaremos, com alma e coração,
Os hossanas alegres e felizes da Ressurreição.
Manuel Armando
(Reflexão para o 1º Domingo da Quaresma, Ano A)
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