Olho o cimo da montanha,
Temo a íngreme e difícil escalada;
Reconheço, porém, que a felicidade se ganha
Só na força da fé bem firmada
Em vida coerente e alicerçada,
Com o desapego e verdadeiro assentimento,
Na escuta humilde e pronta à chamada
Que Deus nos lança, a qualquer momento.
Cada primeiro passo é sempre penoso
Quando desconhecemos em nós uma vocação
Ao desprendimento do egoísmo fogoso
Que abafa todo o amor do nosso coração.
Vamos subir até ao cume do agreste monte,
Onde Deus semeou, em plenitude, a esperança
Pois aí plantou Ele uma vinha e construiu a fonte
Da alegria, bem-estar e segurança.
No seu seio encontramos, depois da tempestade,
A grandeza e o esplendor, na verdade
Da bonança.
Bom é contemplar o Senhor
Na simplicidade e alvura do Seu olhar
Transfigurando a riqueza do amor
Que, radiante, nos acolhe e quer salvar.
Após uma caminhada na dura subida,
Diante desse Senhor que irradia Sua luz
Encontramos o sentido pleno desta vida
Por que se trabalha e trava a luta renhida
Abraçando com entusiasmo nossa cruz.
Descemos, portanto, para a faina de todos os dias
Ao sabor de ventos e tempestades traiçoeiras,
Nesta terra desumana de fantasias
Que exige nosso testemunho nas canseiras
Da busca de felicidade e pão
Semeado e colhido em pedregoso chão.
Somos peregrinos dum mundo infiel e agreste,
Padecemos cumprindo nossa missão
Á conquista da serenidade celeste
Com Cristo, em perfeita e eterna comunhão.
Não me deixes, Senhor, confundir por distracção
Os bens efémeros postos a meu lado;
Perdoa o comodismo do meu pecado
E dá-me a graça do teu perdão;
Pois, em Ti, quero abraçar a paz da Salvação.
Manuel Armando
(Reflexão para o 2º Domingo da Quaresma, Ano A)
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