LIBERDADE, NA DEMOCRACIA
Ainda não entendo, hoje, o que será isso de
democracia, mesmo passados tantos momentos altos, durante os quais muitos
vultos da máquina governativa, sindical, empresarial, judicial e quejandos a
pregam, aos quatro ventos.
Todos fazem dela a base cimentada dos seus
discursos e escritos. Todavia, eu devo ser casca-grossa para não perceber, por
mais que me esforce, semelhante conceito. Certamente por ser uma pessoa mais
prática que teórica. Comportar-me-ei tal qual uma criança quando procura
conhecer o seu brinquedo, fazendo-o de forma positivista, ao desmanchá-lo
inteiramente nas suas peças, até às mais diminutas, ainda que depois não seja
capaz de encaixar tudo no seu devido sítio. Mas, pelo menos, desfazendo,
aprendeu como tudo era por dentro.
Não consigo desmontar o conceito das peças
democráticas pois também não se deixam manusear com facilidade.
Assim desconheço se democracia significa
mandarem todos e ninguém obedecer, pagarem alguns para outros, alguns, gozarem
os dias da vida sem dores de cabeça; se democracia é mandar um sobre o resto da
comunidade ou ainda desobedecerem todos a alguém que não manda nem governa.
Estes e demais caminhos entrelaçaram-se
numa barafunda completa por tal ideia ter sido confundida com o exercício da
liberdade quando esta, em contra-partida, deflagrou como libertinagem em todos
os quadrantes da actuação humana, agitada nas mentes impreparadas e
completamente desconhecedoras do que sucedia, antes.
Sou do tempo da liberdade na sua amplitude
autêntica que sabia delimitar o espaço pessoal próprio, em relação à
propriedade e direito do outro indivíduo.
Nasci na época da verdadeira democracia,
iniciada e experimentada no seio familiar, onde tudo era organizado,
hierarquizado e respeitado de modo que, quando soasse o assobio do pai de
família, disparado na parada, isso bastaria para todos voltarem aos seus
lugares a retomarem as respectivas e pessoais funções na caserna onde crepitava
o fogo do amor e cooperação animada e na boa ordem em tudo.
Nesse tempo, estava subjacente a todas as
acções, familiares e comunitárias, um laivo de teocracia.
Hoje, porém, as coisas e as pessoas
desvirtuam-se na promoção da democracia que se vai tornando demonocracia, ou antes,
demoniocracia numa abundância de deformações, bases das invectivas de homem
contra homem, ambos faiscando lume de raiva, ganância e desrespeito recíproco,
com agressões sem limites.
Significará que, no desenrolar do tempo,
tudo se vai agudizando porquanto a barbárie dos nossos dias poderá parecer
regredir-se, de modo inapelável, ao modo de viver dos trogloditas ou a uma
sociedade sem regras em que não há ninguém a obedecer porque, aliás, não haverá
alguém capaz de saber orientar.
Em suma, vai chegar o regabofe total.
Então sim, iremos todos perceber o que seja
a democracia, experimentada na liberdade, ou a liberdade conspurcada pela
democracia.
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