ENTRE MORTOS
E FERIDOS…
-OU DELÍRIO DE VERÃO-
A ti, que isto lês,
E nem sabendo quem és,
Para não falhar da
memória
Te conto a pequena
história
De um cão,
Maganão,
Que mordeu meus pés.
Chamava-se “Farrusco”
E meteu-me grande susto
Quando, naquele lusco-fusco,
Estando eu desprevenido,
Ele, muito sorrateiro
Ou atrevido,
Sem se fazer ouvir,
Aplicou o golpe
certeiro
E, fingindo, depois se pôs a
ganir.
Ai, o grande estafermo!
- Não sei bem se é este o
termo –
Mas, mesmo não estando no
inverno,
Desejei-lhe o inferno.
Atacou forte e por
trás,
Quando caminhava eu no
sossego,
Com pensamento de patego,
Mas em paz.
Queria, assim, o finório,
Ali mesmo, começar,
Para com outros
continuar,
O meu velório.
Aí, passei a cismar:
- Como é fácil ser tramado;
Basta continuar
A caminhar,
Alienado,
Distraído
E não se incomodar
De ser mordido.
Agora, imagino ver governantes,
De todos os quadrantes,
Morderem no salário
Do pobre operário.
E, como se não bastasse,
À miséria do reformado,
Também num misterioso
passe,
Lhe abocanham o bocado.
Anda tudo num alvoroço,
São sete cães a um osso
No campo do ensino.
E assim se cava perigoso
fosso
Entre o professor e o
menino.
Mordem-se os políticos
ressabiados,
Num país já aos
bocados,
Onde todos querem pôr
fateixa,
Dizendo-se
fundamentados
Em sérias razões de queixa.
Ratam-se os homens do
desporto
E, neste mundo já meio
morto,
Acabará por acontecer
Não haver nada mais para
roer.
Fogem, então, os abutres,
saciados,
E os cães que roem pés;
Não sofrerão qualquer revés
Pois estarão sempre
abrigados
Pelas leis dos suspensórios:
- Os ricos cada vez mais
endinheirados
E os mortos pobres,
abandonados,
Sem ninguém nos seus
velórios.
Verão
de 2013
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