Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Era uma vez...QUEM SÃO OS TUBARÕES?


OU… QUEM SÃO OS TUBARÕES?


Falamos, frequentemente, em indivíduos influentes nos diversos sectores da vida e actividades diárias. Eles comandam empresas e grupos. Soltam a sua voz de fanfarrões e fazem tilintar as moedas sonoras nos bolsos das suas labitas bem engomadas. Tagarelam em tom alto para todos ouvirem e ninguém entender.
Frequentam os meios sociais onde nenhum outro ousa dizer a verdade para não cair em desgraça porque só eles pontificam. Espreitam, a cada momento e em todas as esquinas, a ocasião soberana e propícia para espetar a ferroada demolidora e mortífera. Quem é pequeno, a breve trecho, desaparecerá da arena da luta, pois se apresenta desnudado do pilim que tudo pretende comprar, se possível, até a honra.
Os grandes abanam as caudas em sinal de muito desprezo, enquanto os anões se limitam, rastejando, a depenicar as migalhitas que se dispersam pelo chão.
Aqueles não se conformam com o muito que possuem e estes, os miúdos, experimentam a felicidade do desprendimento e da penúria.
Ao vislumbrar-se o espectro de uma crise, quando alguém procura os pequenos, já eles terão desaparecido da cena, enroupados nos seus empréstimos e dívidas que lhes arrastam, rio abaixo, as parcas economias angariadas com suor e lágrimas, enquanto os outros se comprazem na contemplação do espectáculo da derrocada e do esfarelamento dos míseros haveres.
E que pensar daquilo que sucede quando há algo de interesse comum!? O tubarão esconde o seu olhar cobiçoso e faz-se distraído ou desinteressado. O carapauzito vai à sua toca, procura todas as suas moedas pretas e, imaginando que pode, pelo menos, entregar um sinal de compra, volta atrás com todas as sua forças de corrida. Tarde demais, porém. O seu antagonista, entretanto, disparou o golpe, cortando-lhe, assim, todas as hipóteses de algum êxito sonhado.
Penso, a exemplo de momento, naquele cenário de quando aparece, nalgum lado do sertão, um garoto com jeito especial para os chutos no esférico. Parecem transparecer hesitações e, quando o clube de segunda plana económica se resolve pela difícil aquisição, tal caiu já, como sopa no mel, na posse de algum outro mais endinheirado e sorrateiro.

Vem-me à memória o quando ERA UMA VEZ…
Em pequenito, cana às costas, entusiasmo e vontade no alforge e uns gafanhotos ou minhoquitas como isca, lá íamos, eu e um coleguita , até às margens do ribeiro, perto da aldeia, onde corria água límpida a deixar
ver o fundo e a brancura das suas pedras. Podia contemplar-se a fauna piscícola com facilidade.
Lançado o anzol em busca de alguma presa, olhava-se o deslizar pachorrento de uns barbos mais corpulentos sacudindo com a cauda a linha de pesca e, cinicamente, mostrando desprezo pela isca. A cena repetia-se por várias vezes e nada conseguíamos. Todavia, se algum minúsculo ruivaco ousava intrometer-se e abocanhar a iguaria, logo o tubarão do sítio atacava com uma aparente sofreguidão. Ora, comia a isca e … no anzol, o qual era demasiado pequeno para enganar “caça grossa”.
Cenas de vida infantil para, mais tarde, recordar, como o faço agora.
Os factos que nos rodeiam, neste tempo e nesta sociedade, a isso me levam. Certamente sempre assim foi, mas a acuidade actual da economia e das influências fazem-nos tremer a nós, diante de qualquer tubarãozito que identificamos com facilidade, porque vai aparecendo mais gordo e senhor, enquanto, nas crises, aperta o pescoço de uns outros pobres coitados que, por sua vez, nem sequer, logram segurar os seus abrigos.

P.S.
Desculpai-me, seláquios tubarões dos mares, por eu ter usado a vossa inocente imagem para esta minha alegoria, sem a devida vénia.
Se eu, alguma vez e por distracção, me envolver nas águas revoltas onde viveis, fazei de conta que, somente, “brincámos” juntos.

P. Manuel Armando

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