Frequentemente, da boca galhofeira e simples de uma das minhas manas, ouço alvitrar a chave para a solução dum problema sério como o é a falta daquilo com que se compram os melões, as melancias e mais alguma coisa.
Diz, então, ela: “como pode faltar o dinheiro se eles (os governantes) têm tanto papel? Eles que façam muitas mais notas”.
Ora aqui está. Todo este imbróglio duma crise acentuada, a prolongar-se por um tempo indefinido, pois ainda nem se vislumbra qualquer saída airosa, tem a respectiva resolução, de verdade, no papel. Mas também, convenhamos, as fábricas papeleiras a produzirem tal material em grande escala acabaram por fechar ou são, hoje, bem raras.
Nos momentos que passamos, o estado crítico do papel mais se acentua. Em tempos idos, havia maior consonância entre o que se possuía e o que se era. O papel constituía, portanto, um valor insofismável e inalienável, enquanto desempenhado cabalmente por cada indivíduo, demonstrando, à saciedade, o sentido de dignidade e comunhão social. Quando todos, embora buscando cada um o sustento para si e família, trabalhavam em prol do bem comum, as coisas corriam com as dificuldades da normalidade.
Todavia, agora, qualquer pessoa parece puxar a brasa para a sua assadura e o caldo surge entornado.
Numa obra de teatro, posta em palco, todo o actor desempenha o seu papel e, no fim, tudo se vai consertar nas palmas do reconhecimento e da cultura.
Os dramas actuais que presenciamos nestes tempos amargos de uma farsa encenada por uns tantos, o público nem possibilidade encontra para se sentar pois as cadeiras estão já a servir apenas os mais afortunados da sociedade, seguradores de papéis inúteis, porque egoístas.
Indago sobre qual é o meu papel na comunidade que habito ou partilho e, não sendo, evidentemente, quem melhor faz, tenho a consciência do dever trabalhar para o meu proveito e o dos outros.
Constato ainda que há muitos papéis os quais nem todas e quaisquer pessoas estarão dispostos a desempenhar sinceramente porque se o fizessem, haveria papel para realizar sonhos e dinheiro, em notas capazes de pagar o pão em cada dia para aqueles quantos, na vida, desempenham com lealdade e firmeza o seu papel.
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