Como Te atreves, Senhor, a falar dos tributos
A um povo, já de si, gemente e sobrecarregado,
Sem trabalho, norte ou esperança,
Que procura o vazio dos seus bolsos enxutos,
Não encontra o sustento desejado,
Perdendo, assim nesta vida dura, sua confiança?
Na incerteza duma manhã seguinte,
Rebola o seu corpo inquieto na sombra do leito,
Imagina-se de saco às costas e mãos de pedinte,
Assegurando que, para tal, não tem arte nem jeito.
Bem sabemos: a justiça é Tua vontade
E que todo o homem ganhe o pão,
Tendo, pelo trabalho, direito à igualdade
E por ser membro activo desta sociedade,
Em estreita colaboração,
Veja acatada a sua razão
Com a honestidade
Da plena e fraternal comunhão.
Todos construirão um mundo melhor,
Se cada qual procura trabalhar
Pela dignidade que o Senhor
Lhe veio mostrar.
Criados à imagem do Criador,
Na semelhança da Graça e Caridade,
Deixaram-se os humanos, por fragilidade,
Usando mal sua liberdade,
Inverter os divinos planos de amor
Para cair na desobediência e maldade.
Restituídos, porém, à primeira condição
Da felicidade e consciência,
Reconciliados pela força duma Cruz,
Hão-de encontrar a certeza do perdão
Na bondade de Quem, na Omnipotência,
Se revelou, para todos, Luz.
É cada um de nós, então, nova criatura,
Moeda onde o rosto de Deus está gravado;
A Ele pertencemos, mesmo no pecado,
Escolhidos e comprados para a salvação futura
Pelo preço dum sangue derramado.
Estamos na Terra, mas não somos sua pertença,
Só a Deus pagaremos o tributo
Desta vida, de valia imensa,
Quando Ele vier colher o fruto
Do nosso pobre coração
E nos conceder a feliz salvação,
Como recompensa.
Manuel Armando
(Reflexão para o 29º Domingo Comum, Ano A)
(Mt.22,15-21)
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