Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

terça-feira, 28 de agosto de 2012


     E EU, NÃO VALHO NADA?  

 

    Ainda bem que alguém, vão lá poucos anos, consignou o meu direito à indignação.

    E sendo assim, em qualquer momento, esteja onde estiver, nas diversas latitudes da minha existência posso, porque devo, indignar-me. E mais; ninguém se atreva a chamar e, muito menos, considerar-me um verdadeiro doido. Aí a minha indignação seria alargada para muito longe.

    Se tenho direito, devo exercê-lo sobretudo quando as razões, mesmo tidas como simples, são imperiosas e pertinentes. É uma questão de observação humana racional que não pode ficar calada. Não importa haver desacordo entre nós humanos, pois cada cabeça deve pensar de modos diversificados sem molestar as opiniões alheias.

    O grande benefício que nos assiste é o dom da liberdade fundamental inerente à criação e da qual jamais alguém nos pode espoliar, sob pena de contraditar a ordem natural das coisas e pessoas.

    É verdade que sempre houve sistemas políticos e sociais ou sociológicos a espartilhar esta prerrogativa, todavia também, com toda a frequência e naturalidade, apareceram vozes discordantes denunciando abusos tendenciosos a forçarem regressões importantes.

    Então, porque me considero livre e com alguma capacidade de reflexão, retomo a razão da minha indignação.

    É que penso não valer nada, ou ponho a dúvida, porque ninguém me quer comprar, ou pelo menos não dou por isso nem os meus supostos empresários se mexem nesse sentido.

    Também é a verdade pura que eu não estou no famoso escaparate das vendas nem tenho rótulo de nada. Por isso, sou um ilustre desconhecido.

    Então, qual o real motivo da minha indignação?

    É muito simples: Compram-se e vendem-se pessoas, pelos preços vergonhosamente exorbitantes e acintosos de milhões, para darem uns pontapés na vida a entreterem meio cento de apaniguados. E até se exaram cláusulas astronómicas que salvaguardam quaisquer rescisões contratuais.

    Não é por nada, mas existem também milhões de sardinhas ou pãezitos que poderiam ser comprados e matariam a fome em milhões de crianças ou adultos mas, para isso, não se dispõe de um cêntimo no fecho de tal negócio. Dizem que é por causa da crise. Entendo.

    Volto atrás na minha indignação e que ninguém tenha a ousadia de tentar comprar-me, seja pelo preço que for e da forma julgada mais capaz porque, já agora, prefiro emparceirar com aqueles que vêem a sua dignidade no pouco que produzem mas com utilidade para toda a comunidade, enquanto muitos outros correm no estádio à procura da coroa que desaparece como o fumo.

    A razão assistia ao Apóstolo Paulo quando escreveu para os Coríntios isto: “Não sabeis que no estádio todos os atletas correm, mas só um ganha o prémio? Portanto, correi para conseguir o prémio. Os atletas abstêm-se de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, para ganharmos uma coroa imperecível. Quanto a mim, também eu corro, mas não como quem vai sem rumo. Pratico o pugilato, mas não como quem luta contra o ar. Trato com dureza o meu corpo e submeto-o, para não acontecer que proclame a mensagem aos outros, e eu mesmo venha a ser reprovado” (1Cor.9,24-27).

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