Quem sou

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Vocação: Padre - Outras ocupações: artista de ilusionismo e hipnotismo

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A NECESSIDADE DO FERMENTO

         Temos uma determinada propensão, talvez inata, para o estado pessimista permanente de nos lamentarmos com intensidade, por tudo e por nada. Parece estar na massa do nosso sangue deixarmo-nos arrastar, logo, desde os primeiros indícios de quaisquer crises, perigos ou barulhos que grassam ao redor de nós, em cada dia.
         Há uma certa psicose de multidão que impede o indivíduo de pesar, mais pela consciência, os boatos ou as notícias reais que obscurecem os intelectos se não forem devidamente acautelados pela auto-defesa do equilíbrio emocional.
         Claro que, para o caso, concorrem muitas circunstâncias fortuitas ou mesmo provindas de quem, sadicamente, alimenta em si a esperança de inconfessáveis proventos abundantes.
         Hoje torna-se extremamente fácil aproveitar a tal psicologia de multidão e fazer correr qualquer problema ou informação que interesse a alguém propalar, sabe-se lá com que intenção escondida.
         Todavia é bom que não nos deixemos precipitar na acomodação ao ambiente para avaliarmos, por nossas próprias capacidades de análise, o mundo humano que nos rodeia. Acharemos, certamente, inúmeros sinais a desvendarem outros prismas por que a vida deva ser compreendida e abraçada. São os exemplos daqueles que procuram entendê-la pelo lado positivo duma execução adequada e produtora dos frutos alimentadores de qualquer existência experimentada em pleno.
         Ora, ainda vamos tropeçando em alguns modos simples e ricos de aceitar contrariedades ou lidar na humildade dos êxitos. Felizmente, dizemos, porque nem tudo está mau, nesta terra dos mortais.
         Aquela senhora, cuja figura tenho diante dos meus olhos, poderá ser considerada um protótipo de elevação anímica espiritual exemplar. Acamada há já vários anos, continua vivendo com lucidez no coração, um sorriso permanente nos lábios, donde brotam também palavras encorajantes e de conformação à vontade divina superior, aceite porque descoberta por fé inabalável.
         Afirma com tranquilidade e convicção: “Aos noventa e muitos anos que transporto sobre os meus ombros, que mais posso aspirar, depois de ter assistido ao partir dos meus pais, olhar os seis irmãos que me anteciparam na abalada, conviver com a felicidade de casada durante sessenta e seis anos, com o homem que sempre amei profundamente, correspondendo reciprocamente ao seu desvelo por mim, e que a sua morte interrompeu na sua forma humana.
         Não nadando na opulência, descobri as delícias do mundo; sempre confiei no Criador que me bafejou com filhos maravilhosos que, até agora, não me deixaram abandonada, nunca.
         Que devo eu desejar ainda, pois, senão deixar o testemunho da minha paz e de um cumprimento da missão que Deus quis confiar-me?”
         Ouvindo tal declaração espontânea e carregada de mensagem, trouxe à memória as palavras de Paulo de Tarso, dirigidas no grande entusiasmo e convicção profunda, ao seu amigo íntimo, Timóteo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo juiz, e não somente a mim, mas a todos os que anseiam pela Sua vinda” (2Tim.4,6-8).
         É claro que, numa sociedade materializada, como esta que nos quer envolver a todos, tal perspectiva de vida não passará, na apreciação dos cépticos, de pura quimera ou desarranjo de mentalidade. Mas, convenhamos que também sempre, e felizmente, continuará a existir alguém com a noção plena, e conscientemente convicta, da necessidade de ser o verdadeiro fermento para levedar e incentivar a massa restante.

                                                                               Manuel Armando
     

      

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