Pior mal é o de quem nada procura ver;
Por si mesmo assume toda a cegueira
Quando só o mundo material vai conhecer
Com a sua vaidade e teimosia traiçoeira.
Quem não vê anda na escuridão,
Deixa passar o tempo da luz,
Despreza aquele que lhe estende a mão
Para, assim, esquecer e recusar quem o conduz.
Os instalados de vida, numa sociedade vazia,
Que desdenham, sem pena do seu semelhante,
Idolatram seus bens de fortuna e sua fantasia
E não aceitam que outros passem adiante.
Olhar para o mundo que nos rodeia,
Descobrir nele sua beleza e harmonia,
Respirar a criação em fogo que incendeia
É supor o Criador
Que, no supremo gesto de amor,
Nos envolve e compromete na sua alegria.
O Senhor nos chama, a cada instante,
Para abrirmos os olhos à luz do dia
E que reconheçamos a injustiça gritante
Do nosso pecado de crueldade e rebeldia.
Nascemos cegos pela própria natureza
Por sermos frutos da humana inconsciência
De quem procurou a repentina beleza
Do conhecer desobediente a árvore da ciência.
Amassaste, Senhor, o mundo do pecado e da lama;
Com ele e nele clareaste o meu olhar;
Hoje, posso amar e seguir quem me ama,
Vencer os empecilhos e os escolhos,
Sem peias e, na verdade, caminhar,
Contemplando a vida com uns outros olhos,
Longe do vazio e da inutilidade
Porque, pela graça baptismal, restituído à liberdade.
Contigo, ó Deus, eu encontre a radiante luz,
Avance no testemunho sem vacilar,
E que o mundo não me torne a cegar.
Carregue, com entrega e humildade, a minha cruz,
Na comunhão permanente com Teu Filho Jesus.
Manuel Armando
(Reflexão para o 4º Domingo da Quaresma, Ano – A)
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