Ouvem-se clarins e trombetas,
Rufam, nervosos, os tambores,
Anunciando aos grandes senhores,
Apostados nas poltronas das valetas,
Que o banquete está preparado;
E o convite feito desta maneira,
Com apreço e persistente canseira,
Não deve ser recusado.
É o Rei quem está a chamar
Para as bodas do seu Herdeiro,
Ninguém despenderá dinheiro,
Tudo vai ser gratuito e opulento;
Basta, apenas, escutar
Tal chamada de suprema amizade
Para o encontro da caridade,
Num manjar tão suculento.
Partem os servos, a toda a brida,
Porque não há tempo a perder;
Batem nas diversas portas da vida,
Isto a ninguém pode esquecer
Pois acontece uma só vez,
E não haverá razão cabal
De se negar ao apelo que alguém fez
Para a festa nupcial.
Mas aparece a recusa esfarrapada,
Cada qual tinha já ocupação
E, assim, fechava o coração
No egoísmo e apego a tudo e a nada.
Acabaria a razão
De tanto cuidado,
Se o senhor não tivesse pensado
Numa outra multidão.
Por estradas, ruelas e veredas,
Arrastam-se os pobres duma sociedade
Que espera a oportunidade
De saber sua vida lembrada;
Com o desejo ardendo em labaredas
Serão os primeiros que, pressurosos,
Nos seus dias ansiosos,
Respondem, sem mais, à chamada.
Enche-se a sala com muita gente
Numa experiência diferente,
Mas nem todos tiveram em conta
Este caso de grande monta:
Não prepararam as suas roupas,
Fizeram orelhas moucas
E entraram sem reparar
No que era preciso usar:
Trajes de vigilância,
Na pureza de infância
De sentimentos purificados,
Porque era banquete da Sabedoria
Para o qual, na alegria,
Foram convidados.
Também não tenhamos nós ilusões
E atentemos no Reino de Deus
Com o amor e a humildade
Dos nossos corações,
Porque o convívio nos Céus
É-nos oferecido pela bondade
Do Espírito que anima, como um luzeiro
A iluminar
E chamar
Para a felicidade
Nas bodas do Cordeiro.
Manuel Armando
(Reflexão para o 28º Domingo Comum, Ano A)
(Mt.22,1-14)
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